Savate, "chausson", marinheiros e o mar na elaboração do boxe francês ─ 1798-1875
Por Jean-François Loudcher
O savate, como um duelo com golpes de pés e punhos, nasceu na França no começo do século XIX, muito provavelmente nas tabernas de Paris. A referência mais antiga é encontrada nas Memórias de Vidocq, publicadas em 1828, nas quais ele relembra seu passado de condenado nas prisões de Bicêtre, onde ele teria aprendido os primeiros rudimentos desta arte de combate, por volta de 1798, com Jean Goupil, o “São Jorge do Savate”1. Mas nada corrobora este testemunho.
Posteriormente, uma série de brigas com chutes e socos, mais ou menos ritualizados, com o nome de savate ou savatte, foi registrado no começo dos anos 1830. Nesta fase, não parece que o mar ou os marinheiros tivessem qualquer relação com o savate, que também é chamado de chausson, devido ao nome do calçado usado nas salas de esgrima. A partir dos anos 1840, e especialmente 1850, muitas fontes evocam esta relação entre o savate, o chausson e o mar, principalmente através dos marinheiros, em geral militares. Podemos identificar aí os contornos do mito amplamente compartilhado do chausson de Marselha sendo trazido da Ásia graças aos marinheiros?
1 Loudcher, 2000.
O mito das origens orientais do savate e do "chausson" de Marselha
Na verdade, esta interpretação foi difundida nos anos 1960 por alguns dirigentes do savate. Podemos ler da pena de Bernard Plasait, líder do renascimento do boxe francês:
Por volta de 1790, os marinheiros franceses utilizavam um método de combate adaptado à estabilidade precária dos pontões dos navios. Eles davam golpes com os pés muito altos, garantindo o equilíbrio com uma das mãos apoiada no chão.”2
No entanto, nenhuma fonte confirma esta afirmação. As poucas ilustrações sugestivas desta influência aparecem bem mais tarde. As razões que levaram esses dirigentes a elaborar este mito se devem, na verdade, à popularidade das práticas marciais de origem asiática que então se disseminavam, como o judô e o caratê,3 esperando assim recuperar uma parte dos praticantes. O conde Pierre Baruzy liga as origens do boxe francês à Ásia com base em uma gravura, datada de 1857,4 mostrando marinheiros marselheses que praticavam golpes com os pés, inspirados em práticas que eles teriam visto durante suas viagens.
A origem asiática do savate, contudo, é um mito que provém de outro mito: o próprio chausson de Marselha. De fato, é bastante difundida a ideia de que existe uma forma original de luta com pés e punhos originária do sul da França, que teria sido mais ou menos alimentada por influências asiáticas. Esta crença se apoia, entre outros, nos escritos divulgados por Joseph Charlemont, o pai do boxe francês acadêmico. Mas se é verdade que o chausson de Marselha tenha uma certa realidade, as fontes só o atestam a partir da segunda metade do século XIX, logo, sua prática é posterior ao savate : o chausson é antes de tudo uma invenção parisiense.
Nas suas Memórias, Maurice Nadaud lembra as noites em que os trabalhadores iam, no início dos anos 1830, “à sala de Gadoux ou à sala de Le Mule, considerados os dois mestres de chausson mais habilidosos daquele tempo”5. Em 1842, o célebre escritor Théophile Gautier empresta ares de nobreza à luta ao escrever um artigo de referência intitulado O mestre de chausson. Ele inventa então o nome de boxe francês.
2 Plasait, 1971, p. 34.
Para o escritor provençal François Mazuy, não existe ambiguidade, o chausson não existe em Marselha como prática importada de marinheiros do século XIX. Ao contrário, a partir dos anos 1820-1830, esta prática se desenvolveria sobre outras bases :
Os marinheiros libertados das prisões da Inglaterra importaram as cercas para cavalos e carneiros: o savate e o boxe. De todo lado apareceram academias de socos, aconteceram concursos para eleger mestres e instrutores.”6
Mas não se pode excluir que os lutadores de Marselha, por volta de 1850, tenham assimilado esse execício a uma forma de luta ou de jogo, como a bravade ou as olivettes, originárias do sul da França. De fato, Jules Vallès descreve em 1865, no L’Époque, exercícios espetaculares, e, sobretudo, inofensivos praticados pelos lutadores marselheses antes dos confrontos.
6 Mazuy, 1854, p. 183.
Savate, "chausson" e marinheiros
Savate, chausson e boxe francês têm relação verdadeira com o mar e, sem dúvida, mais ainda com a marinha de guerra e o exército. Em 1874, a Escola de Ginástica de Joinville executou, durante mais de três horas, uma das primeiras apresentações públicas onde o boxe francês esteve no centro das atenções :
Em frente à Redoute de la Faisanderie, os oitocentos ou mil alunos da Escola se puseram em armas, formando três filas. A segunda parte da sessão foi dedicada aos exercícios de ginástica, de boxe e bastão. Trezentos e vinte e sete alunos de boxe e de bastão, dos quais cinquenta e dois eram marinheiros, executaram primeiro os movimentos em conjunto, depois, vinte quatro deles separaram-se dois a dois para jogos especiais, que eram sempre interessantes e muitas vezes divertidos.”7.
A atuação é inovadora pelo número de soldados presentes e pela forma do exercício, que não parece ter sido realizado em tão grande escala anteriormente. Além disso, um significativo contingente de marinheiros participa desta apresentação. A introdução do savate na Escola de Ginástica de Joinville não teria se dado graças à marinha? De fato, em 1875, um programa de ensino do boxe francês, bastão e bengala foi publicado pela marinha.8 Mas foi a prática do boxe francês de quatro lados que se disseminou de maneira privilegiada no exército, nas escolas e em quase todo o mundo, seja no movimento da ginástica tcheca Solkol ou no moderno caratê japonês.
Mas, mesmo com a permissão da marinha para a sua difusão no exército, o savate, no entanto, sofreu uma grande transformação em seu ensino após a guerra de 1870 com a Prússia. E antes disso?
Sabemos que o chausson, o boxe e a bengala eram praticados na Escola de Ginástica de Joinville em 1867 porque estas práticas estão atestadas no verso de um Certificado de Instrutor.9 Podemos ver aí a influência da marinha? De fato, muitos testemunhos mencionam esse ensino na marinha, que na época não era muito unificada em termos de ensino de práticas de combate.10 No entanto, em 1867, um “boletim oficial” atestou o ensino do “boxe” francês:
Art. 15
Os instrutores de ginástica (suboficiais e contramestres) deverão, em sua maioria, ser capazes de dar lições de canto pelo método Chevé e de ensinar o boxe e o bastão.“11
7 Revue Maritime et Coloniale, 1874, p. 781-785.
Mas parece que a prática do savate na marinha militar seja mais antiga. Em 1850, o relatório do capitão Louis Edouard Bouët-Willaumez, sobre a campanha na África, lembra de maneira bastante informal a sua existência:
Como de costume, chamei os mestres e os instrutores de armas a bordo para explicar o método que eu queria ver adotado (….). O manejo do sabre foi seguido pela bengala nos momentos de lazer; depois o savate tomou parte, tanto que, no final da campanha, esta tripulação, composta na maior parte de marinheiros bretões bastante pesados, tinha adquirido uma desenvoltura e uma agilidade que impressionou todo mundo: não vou acrescentar que eles tinham uma opinião tão elevada de sua habilidade como espadachins, que o grupo de embarque de elite, composto de vinte e quatro mestres, instrutores ou atiradores de elite, não teria duvidado, com uma pretensão das mais divertidas, mas no fundo louvável, que eles poderiam tomar uma fragata inimiga em menos de um quarto de hora.”12
Embora o seu ensino pareça bastante habitual, o fato é que dependia da vontade do oficial. Então, o que eles ensinavam? Difícil dizer. Contudo, uma gravura datada de 1857 nos permite extrapolar um pouco. Ela representa um grupo de marinheiros sobre o convés de um barco a vela, onde dois lutadores se destacam em primeiro plano: um dá um golpe com o pé, apoiando uma mão no chão sobre o peito do outro, que o segura com as duas mãos. Este exercício era então praticado por acrobatas da época, como os famosos Rambaud e Vigneron, em inúmeras feiras organizadas em Paris e no resto da França13. Os marinheiros não são antes de tudo viajantes?
Além disso, existe uma representação muito semelhante a esta litogravura, intitulada Bleu à la savate, que data aproximadamente do mesmo período. Diferentemente da primeira gravura, o boxeador coloca suas duas mãos no chão, para dar um golpe com os pés, muito semelhante, e quase fica de costas para o seu adversário.
Certamente houve múltiplas trocas entre o savate parisiense original e os marinheiros por meio desses acrobatas que cruzavam a França, de Toulouse a Marselha, Normandia e Bretanha. Como Jules Vallès atestou na década de 1850 em Nantes:
E Nantes, próximo à rua do Château, um dia, eu vi, na porta de um cabaré, um cartaz que me surpreendeu com seus dois pugilistas de cor suja lutando boxe. Na porta ficava um homem pequeno, com pinta de soldado raso grisalho, comum, que parecia um dos heróis do letreiro. Falei com ele. Ele tinha sido instrutor de chausson -e de dança ! – no regimento, agora era carpinteiro… Ele dava aulas de de savate, à noite, depois de terminar seu dia de trabalho”14.
Estaria este instrutor alistado em um regimento embarcado como fuzileiro naval? De qualquer forma, um livro escrito por C. J. Arnaud, datado de 1849, foi publicado em Brest e testemunha esta proximidade com o mar. A cidade era então um porto muito ativo da marinha de guerra. Uma gravura mostra um exercício de socos e defesa muito parecidos àqueles usados no livro de Leboucher de 1843.
12 Bouët-Willaumez, 1850, p. 15.
Comentário à imagem "Bleu à la savate":
Esta imagem, de origem desconhecida, foi encontrada na internet no site Wikimedia Commons.
Uma data a acompanha, 1847, bem como um comentário em inglês: “Uma ilustração de savate do século XIX, mostrando marinheiros franceses dando um chute semelhante ao rabo de arraia da capoeira.”
O site redireciona a um site brasileiro que não especifica a origem da imagem.
Sem mais indicações, podemos, no entanto, identificar um período durante o qual essa imagem foi produzida. Ela descreve um indivíduo que desfere um chute com a perna esquerda no peito do oponente apoiando-se com as mãos no chão e virando-se de costas. A julgar pela expressão do oponente, o golpe é eficaz, ele abre os braços, se desequilibra para trás e sua cabeça se volta par ao céu, expressando forte dor. A cena se passa em um porto francês, como atestam as múltiplas bandeiras penduradas no alto dos mastros. É um duelo de mãos nuas que assistimos e não uma simples briga, como mostram dos numerosos espectadores, todos marinheiros, ao fundo, e que certamente aplaudem a performance, pois todos olham na direção dos dois marinheiros e alguns erguem os braços, sem dúvida, em sinal de vitória.
A data da produção desta imagem pode ser precisada. Os veleiros são certamente navios de guerra estacionados em um porto militar, como mostra o forte ao fundo. No entanto, a marinha de guerra a vela chegou ao fim após a Guerra da Crimeia -1853-1856- : ela foi substituída por navios de ferro. Além disso, embora os bonés de marinheiro com pompons tenham sido introduzidos na década de 1840, eles não foram oficializados até 1856. Portanto, o período de 1840-1853 e a data proposta de 1847 são totalmente plausíveis.
Por fim, podemos nos perguntar sobre o propósito desse cartaz. “Le Bleu à la savate” pode se referir aos uniformes de trabalho que os trabalhadores usavam, às vezes chamados de “bleu”. A adição da frase “qualidade extra” sugere um anúncio de roupas. Ao dar um chute espetacular, a vestimenta resiste e não rasga. Mas porque esta peça de roupa está ligada ao “savate”, um exercício de ginástica não teria o mesmo efeito? Não há dúvida de que o vestuário não é necessariamente de origem francesa e que, portanto, é necessário garantir que sua produção também possa ser sólida, já que a qualidade do vestuário é validada por uma atividade física de origem francesa. Desta forma, é possível que o acrônimo “B & P”, na parte inferior do pôster, se referira à empresa alemã “Bierbaum-Proenen” ou BP, especializada em roupas de trabalho desde o final do século XVIII.
Savate, boxe francês e Brasil (1855-1908); o mar no centro de sua difusão?
A maior parte deste capítulo foi escrita a partir da tese de Olivier Malo a qual nos referiremos.
É certo que existiram relações entre savate, chausson, boxe francês, de um lado, e capoeira, de outro, sendo os marinheiros o vetor privilegiado desta difusão. Durante a segunda metade do século XIX, confrontos (sabre, espada, florete, bangala) eram regularmente organizados na capital brasileira, por oficiais franceses em missão no país. Os militares europeus (portugueses, espanhóis e ingleses) participavam igualmente desses encontros sociais. Ao lado dessas lutas de esgrima, duelos de mão nuas do savate, de chausson e de socco inglez15 eram igualmente planejados. No entanto, para Olivier Malo, não se tratava de combates propriamente ditos, mas de disputas, deixando claro a natureza civilizada dos jogos entre os amadores presentes.
15 Malo, 2020.
Reclame publicado no Correio Mercantil, Rio de Janeiro, 11/031855; cf. Malo, p. 194.
Assaltos com armas organizados em 1867, durante os quais, após os jogos de espada e savate, havia o jogo de capoeira. Prova de que a capoeiragem se difundiu nos meios esclarecidos durante o período imperial, sem dúvida por intermédio de soldados brasileiros conhecedores desta modalidade de prática.
Efetivamente, durante essas disputas, ao lado do savate ou do chausson, os duelos de “jogo de capoeira” eram previstos. O que é à primeira vista surpreendente, pois, nesse mesmo tempo, a prática era depreciada no Brasil Imperial por estar associada ao mundo do crime. Entretanto, com a existência do “jogo de capoeira” nos círculos militares, surge outro aspecto da arte brasileira de combate, aquele de um duelo educado e respeitoso da integridade física dos protagonistas, ao contrário da visão de bandidos tradicionalmente propagada. Em suma, durante a segunda metade do século XIX, a capoeiragem passou a fazer parte dos espaços dedicados à expressão de técnicas de combate, um processo quase equivalente aos duelos de savate da década de 1830.
Além destes encontros entre soldados, na segunda metade do século XIX, o socco inglez (boxe inglês) e a luta romana entraram gradualmente nos teatros populares da capital. Ainda não eram partidas esportivas entre dois atletas treinados, mas apresentações de feira em que lutadores e boxeadores exaltavam as virtudes da força. O desafio de Cyriaco em 1909 foi um ponto importante no desenvolvimento da capoeira como prática de combate, mas também como método de educação física nacional. De qualquer forma, esses “locais de exercício eram reservados principalmente para oficiais e membros do exército e da marinha, nos quais eram por vezes programados jogos de savate, chausson e capoeiragem”16.
16 Malo, Ibid.
Conclusão
O savate pode não ter suas origens no mar e em seus marinheiros, mas, ainda assim, está intimamente ligado a eles. Por outro lado, é verdade que essa prática posteriormente se espalhou pelo mundo com o nome de chausson e/ou boxe francês, graças a uma difusão pela qual os marinheiros, especialmente os de guerra, foram responsáveis. Naquela época, a luta com os pés e os punhos na França era uma forma relativamente não formalizada de combate, ganhando um certo reconhecimento graças a períodos de duelos e confrontos.
Uma vez adquirido esse reconhecimento, seja no exército, nas escolas ou nas associações, após a década de 1870, a instituição limitou essas lutas transformando-as em boxe acadêmico. A luta de Joseph Charlemont contra o boxeador inglês Jerry Driscoll, em 1899, é bem conhecida, e sua vitória o tornou um nome conhecido na França. Mas foi um confronto muito controlado. A partir de então, o que contava era o confronto esportivo e, como o boxe francês ainda não havia desenvolvido regras esportivas que funcionassem, foi o boxe inglês que prevaleceu na França.
No Brasil, talvez de uma forma um pouco diferente, encontramos um processo idêntico. Uma vez que a capoeira se estabeleceu em confrontos esportivos codificados, a influência do savate deixou de existir e práticas como o boxe inglês, a luta livre e o jiu-jitsu passaram a se destacar. Seja como for, o mar e os marinheiros certamente uniram mundos que pareciam tão diferentes no século XIX entre a França e o Brasil.
Jean-François Loudcher é professor de ciências históricas e sociais na Universidade de Bordéus. Seu trabalho trata da história da educação física e do esporte na França e no exterior. Há algum tempo que se dedica à análise de políticas públicas e territoriais.
Foi presidente da Sociedade Francesa de História do Desporto (SFHS), bem como do Comitê Europeu para a História do Desporto. Atualmente é coeditor da revista Ciências Sociais e Esportes e codiretor do Master Sports Management, em Bordeaux.
Referências
Arnaud, C. J. Teoria dos três jogos reunidos: ‘chausson’, savate e boxe. Organizada em vinte e quatro lições. Brest, 1º de junho de 1849. Texto manuscrito de 136 pp. e 24 folhetos.
Bouët-Willaumez, Louis Edouard. Campagne aux Côtes Occidentales d’Afrique, par M. Louis Edouard Bouët-Willaumez Capitaine de Vaisseau. Paris, Imp. P. Dupont, 1850, p. 15.
Brevet de chausson et de boxe, 1857. Fonte: Cabinet des Estampes, BNF.
Brevet d’Instructeur de Gymnastique, Archives Nationales, CC3-1196.
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Loudcher, Jean-François. Histoire de la savate, du chausson et de la boxe française ; d’une pratique populaire à un sport de compétition. Paris, L’harmattan, 2000.
Loudcher, Jean-François e Christian Faurillon. 2021. ‘The influence of French Gymnastics and Military French Boxing on the Creation of Modern Karate (1867-1914)’. Martial Arts Studies 11, 80-100. doi: 10.18573/mas.135.
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