Fórum Global de Artes Marciais 2024 (Chungju, Coreia do Sul, 7 a 9/10/24)
Resumo na cerimônia de encerramento do GMAF 2024 por Minyeong Kim
Senhoras e senhores, estimados colegas e entusiastas das artes marciais,
Ao concluirmos o Fórum Global de Artes Marciais de 2024, somos lembrados da intensa jornada que compartilhamos nos últimos dias. Uma jornada que não apenas explorou as artes marciais como uma forma de autodefesa ou proeza física, mas como uma força cultural e social vibrante, profundamente entrelaçada com as identidades, os valores e o futuro das sociedades em todo o mundo.
Reunimo-nos aqui sob o tema “Artes marciais como patrimônio vivo: seu passado, presente e futuro”. Cada apresentação e discussão esclareceu como as artes marciais transcendem a mera atividade física. Elas são tradições vivas que protegem o patrimônio cultural de diversas comunidades e, ao mesmo tempo, servem como ferramentas poderosas para o desenvolvimento social.
Legado cultural das artes marciais
Desde os movimentos rítmicos da capoeira, que mistura dança, música e artes marciais em uma expressão cultural única, até o esporte intenso e estratégico do Kok-Boru, um jogo que simboliza força, resistência e trabalho em equipe entre os nômades da Ásia Central, as artes marciais servem como uma ponte entre o passado e o presente. Essas tradições são mais do que técnicas de combate ─ são celebrações culturais que reforçam os valores e a história de suas comunidades.
A capoeira, nascida da resistência dos africanos escravizados no Brasil, é um poderoso testemunho de resiliência e criatividade. Ela transforma a opressão em arte, usando movimentos fluidos para expressar liberdade e identidade. Essa arte marcial encapsula a síntese cultural de elementos africanos e do Brasil colonial, tornando-a não apenas um esporte, mas uma forma de resistência e celebração cultural.
Da mesma forma, o Kok-Boru, um esporte tradicional a cavalo da Ásia Central, reflete a herança nômade da região. Com raízes em séculos de tradição, ele representa mais do que apenas um jogo. É um evento social que promove o espírito comunitário e preserva um modo de vida que enfatiza a bravura, o trabalho em equipe e o respeito pela natureza. Tanto a capoeira quanto o Kok-Boru nos lembram que as artes marciais são veículos culturais poderosos que carregam os valores de comunidade, resistência e unidade.
Desde essas lutas até a luta agarrada (wrestling) Bökh da Mongólia, o Kun Lbokator do Camboja e o wrestling de óleo centenário da Turquia, vimos como as artes marciais refletem a história, a resiliência e a criatividade de um povo. Essas tradições, enraizadas em rituais e narração de histórias, evoluíram, refletindo os cenários sociais, políticos e ambientais que as moldaram.
A importância dessas práticas, muitas das quais são reconhecidas como patrimônio cultural intangível da UNESCO, nos lembra que a proteção dessas tradições é fundamental. Sua existência contínua permite que as gerações futuras se envolvam com suas raízes, promovendo um profundo senso de identidade e orgulho.
Impacto social e desenvolvimento
Porém, as artes marciais não são apenas práticas históricas ou culturais. Elas são, em sua essência, ferramentas adaptáveis e dinâmicas para tratar de questões sociais urgentes. Uma das mensagens mais fortes desse fórum é como as artes marciais podem servir como um veículo poderoso para o fortalecimento dos jovens e para a coesão social; e, como o professor Marc Theeboom destacou em seu discurso principal, as artes marciais podem ser uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento social.
Em seu discurso de abertura, o professor Marc Theeboom enfatizou que as artes marciais têm uma capacidade única de transformar a vida de jovens socialmente vulneráveis. Desde o desenvolvimento da disciplina e do respeito até o aprimoramento da regulação emocional e da autoestima, as artes marciais oferecem um caminho para sair dos ciclos de exclusão. O exemplo do Tahteeb do Egito, onde os jovens se envolvem ativamente na preservação do patrimônio enquanto desenvolvem habilidades para a vida, é um lembrete inspirador do potencial dessas tradições para a capacitação social.
Da mesma forma, o renascimento do Taijiquan inclusivo para populações vulneráveis demonstrou como as artes marciais podem proporcionar cura física e emocional, promovendo o bem-estar individual e a solidariedade comunitária. Ouvimos a respeito do poder das artes marciais de transformar a vulnerabilidade em força ─ uma lição que ressoa entre os praticantes e a sociedade em geral.
Taekkyeon
Mestre Park, Hyo-soon (à direita) e mais dois professores da arte marcial tradicional da Coreia.
Geommu
Apresentação do grupo de artes marciais coreano Jimudan.
Unidade e construção da paz
Uma das constatações mais poderosas deste fórum foi o potencial das artes marciais para promover a paz e a compreensão intercultural. A inscrição conjunta de Ssireum pelas Coreias do Norte e do Sul é um sinal de esperança, demonstrando como o patrimônio cultural compartilhado pode servir como uma ponte para a reconciliação e a paz. Essas iniciativas são cruciais em um mundo que muitas vezes se encontra fragmentado e dividido. Elas nos lembram que mesmo as divisões mais profundas podem ser superadas por meio do respeito mútuo e do diálogo intercultural.
Além disso, a revitalização do tiro com arco tradicional turco, especialmente após sua inscrição como patrimônio imaterial na UNESCO, ressalta seu papel de iniciar discussões sobre a justiça de gênero e de promover a igualdade de gênero.
As pesquisas indicam uma participação quase igualitária de homens e mulheres no tiro com arco, demonstrando como as artes marciais podem desafiar as normas sociais, promover a inclusão e garantir a justiça ao mesmo tempo em que preservam as tradições culturais.
As artes marciais, com sua ênfase na honra, no respeito e na disciplina, têm o potencial de unificar em vez de dividir. Seja por meio da participação internacional nos Jogos Nômades Mundiais ou do fascínio global por práticas como o Silat, essas tradições unem as pessoas, enfatizando nossa humanidade compartilhada.
Conclusão
As discussões e apresentações dos últimos dias mostraram que as artes marciais são muito mais do que técnicas de combate. Elas são tesouros culturais, ferramentas sociais e fontes de identidade e paz. Ao sairmos deste fórum, levemos conosco a compreensão de que essas tradições têm um poder imenso. Poder para transformar indivíduos, curar comunidades e construir pontes entre culturas e gerações.
Agradeço a todos que contribuíram para esta importante conversa. Juntos, vamos continuar a apoiar o crescimento e a sustentabilidade das artes marciais, garantindo que elas continuem sendo uma parte vibrante do nosso patrimônio cultural global.
Muito obrigada.
Minyeong Kim é especialista em programas da equipe de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Internacional de Artes Marciais para o Desenvolvimento e Engajamento de Jovens (ICM), sob os auspícios da UNESCO, em Chungju, na República da Coreia (Coreia do Sul).
Referências
As imagens deste post foram tiradas por Matthias Assunção durante o GMAF 2024.
Para a programação completa, papers, fotos, videos e mais materiais, veja:
https://www.icmforum.org/index.php
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