Mestre Celso Pepe

Celso Pepe nasceu em 1949, no Rio de Janeiro.

Matthias Röhrig Assunção (setembro de 2020)

Seu pai, Hugo Pepe, foi combatente da FAB na Itália e serviu na famosa batalha de Monte Castelo. Celso se iniciou na capoeira em 1957. Nessa época, morava no conjunto residencial IAPC, em Olaria, e era vizinho de Djalma Bandeira. Todo domingo de manhã escutava uma batida de pandeiro e outros instrumentos vindos do centro comunitário do condomínio. Com apenas oito anos escapuliu de casa e foi para o centro comunitário, onde assistiu pela primeira vez uma aula de capoeira ministrada por Djalma. Apresentou-se e pediu para participar, no entanto, Djalma recusou, alegando que ele era muito criança.

Celso Pepe escola de samba scaled
M. Valter Pepe na Queda de Rins. M. Celso Pepe é o segundo berimbau, fazendo uma linha vertical. da direita para a esquerda,

Decidiu então praticar sozinho, mas continuava assistindo o treino e as ocasionais rodas de domingo de manhã. Viu ali Mestre Artur Emídio e seus estudantes, ou seja, a velha guarda dos alunos de 1956, e também o Mestre Paraná. Celso se juntou então a um amigo da mesma faixa etária, Luiz Garcia Filho, de apelido Pelé, e a seu irmão, Walter Hugo Pepe. Esses três garotos, sozinhos, treinavam atrás de um prédio do IAPC, durante vários meses, reproduzindo todos os movimentos que viam na aula de Djalma.

A partir de 1959-60 Leopoldina e Djalma Bandeira convidaram Celso Pepe para exibição em vários eventos. Ia com a autorização dos pais e Leopoldina ou Djalma ficavam responsáveis por ele. Se apresentou com Djalma na TV Rio, no programa Carlos Imperial, por várias vezes, e também em outras emissoras, por exemplo na TV Tupi, com o CM Paulo Russo (aluno do Djalma), no programa semanal “Em Guarda”. Como sempre precisavam apresentar novidades (e na época quase ninguém conhecia a capoeira), constantemente eram convidados para se apresentarem na TV e em outros eventos.

Celso participou de uma caravana de shows de lutas, da primeira Feira da Providência e do primeiro desfile de escola de samba com capoeira. Isso foi em 1961, com M. Leopoldina, no enredo “Reminiscências do Rio Antigo”, da Mangueira. Depois acompanhou Leopoldina no Cacique de Ramos, conforme registrou o Diário de Notícias, em 1965. Dessa maneira Mestre Celso Pepe aprendeu simultaneamente com dois alunos de Artur Emídio: fazia aulas com Leopoldina e assistia as aulas e rodas com Djalma Bandeira, seu vizinho.

Quando ele começou a ficar bom de capoeira e já mais velho, Djalma passou a convidá-lo para treinar com saco na sua academia e ir aos treinos. Por isso, Mestre Celso afirma: “Tudo que aprendi olhando Djalma, foi o jogo de São Bento Grande e depois eu fui aprender com Leopoldina o jogo de Angola, São Bento Pequeno. Então eu aprendi dois estilos diferenciados um do outro”. Tempos depois Celso se matriculou com seu irmão Hugo na academia Guanabara, onde eram oferecidas aulas de artes marciais e luta livre. Lá, praticou judô, jiu-jitsu e luta livre. Um dia, como ele mesmo conta, chegou à academia um senhor, preto, magro, e o professor Vinagre da academia avisou: “Esse é capoeirista! O nome dele é Leopoldina.” Naquela época Leopoldina tinha 23 anos e era aluno de Artur Emídio. Leopoldina ainda tentou desconversar: “Eu ainda sou aluno!” Mas Celso tanto insistiu que queria aulas com ele, que Leopoldina acabou marcando de treinar ao ar livre, debaixo de uma amendoeira, no quintal da academia Guanabara no domingo seguinte. Assim, segundo Celso Pepe, os primeiros alunos de Leopoldina foram esses três meninos: Hugo, Pelé e ele.

Tempos depois Celso se matriculou com seu irmão Hugo na academia Guanabara, onde eram oferecidas aulas de artes marciais e luta livre. Lá, praticou judô, jiu-jitsu e luta livre.Um dia, como ele mesmo conta, chegou à academia um senhor, preto, magro, e o professor Vinagre da academia avisou: “Esse é capoeirista! O nome dele é Leopoldina.” Naquela época Leopoldina tinha 23 anos e era aluno de Artur Emídio. Leopoldina ainda tentou desconversar: “Eu ainda sou aluno!”

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Leopoldina recebe a visita de Valter e Celso Pepe na sua casa na Cidade de Deus, Rio de Janeiro, no início dos anos 2000.

Mas Celso tanto insistiu que queria aulas com ele, que Leopoldina acabou marcando de treinar ao ar livre, debaixo de uma amendoeira, no quintal da academia Guanabara no domingo seguinte. Assim, segundo Celso Pepe, os primeiros alunos de Leopoldina foram esses três meninos: Hugo, Pelé e ele.

Em 1968, o samba enredo da Imperatriz Leopoldinense dizia: Em te exaltar Bahia Nas tuas feiras os famosos capoeiras Ao som do pandeiro e do berimbau Demonstram dançando e cantando Que és de fato original Beribá é pau, beribá é pau Beribá é pau, de fazer berimbau (bis).

A partir de 1961, Celso Pepe seguiu seu próprio caminho na capoeira. Nessa época conheceu o bloco Sai como Pode, em Ramos. Nesse bloco, deu aula pela primeira vez para vinte alunos, entre crianças e adolescentes. Se desvinculou de Leopoldina em termos de aulas, mas continuava com ele nas apresentações. Quando Celso Pepe começou a ensinar, usou os dois estilos de seus dois professores e batizou seu estilo de “capoeira carioca”. Segundo suas palavras, é “um jogo em cima, em baixo, no meio, com flexibilidade, sem fugir das origens”. Celso Pepe foi professor de muitos alunos, “centenas”, segundo afirma. Uma característica marcante é que ele ensinou em muitos lugares, diferenciados pela geografia e o meio social. Começou a dar aula na academia Líder, em Caxias, e depois na Imperatriz Leopoldinense, na Penha; ensinou na Tijuca, em Copacabana e no Complexo do Alemão. Como diz: “Consegui arrumar problemas, porque não me tranquei num espaço”. No Alemão bateu de frente com uma gangue e teve que sair. Na Tijuca, no Clube Orfeão Portugal, enfrentou uma quadrilha de lutadores de karatê. Em Copacabana, deu aula no Sport Club Radar e na Igreja Presbiterana na Barata Ribeiro. Na Penha, seus alunos, entre eles o Mestre Touro ainda criança, eram conhecidos como os “cabeludos de Pepe”, enquanto outro grupo de alunos de classe média de Copacabana era chamado de “playboys do Mestre Pepe”.

Mestre Celso Pepe enfatiza, no entanto, que começou na capoeira numa época muito pesada. A capoeira ainda era muito discriminada. Ele lembra que foi xingado, cuspido e até preso simplesmente por estar na rua. Seu próprio pai o chamava de vagabundo, porque queria viver de capoeira. Assim, quando se casou, aos 28 anos, tirou carteira de motorista e começou a ganhar sua vida como taxista, profissão que o sustenta até hoje. No entanto, nunca abandonou a capoeira e deu aulas até 2003.

Celso_Valter Pepe
Mestres Celso e Valter Pepe, na Academia Almir Ribeiro, na Tijuca, Rio de Janeiro, em 1962.

Fontes:

Todas as fotos são do acervo Celso Pepe.

Entrevistas com M. Celso Pepe e M. Touro.

Diário de Notícias (Hemeroteca Nacional)

Rio de Janeiro

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