Geisimara Matos & Matthias Röhrig Assunção
O Grupo Muzenza foi fundado em 1972 por Paulo Sérgio da Silva, o mestre Paulão da Muzenza. Liderado pelo mestre Burguês, cresceu muito na década de 1990, criando núcleos em muitos estados do Brasil e no exterior. O Muzenza estabeleceu-se hoje como um dos maiores grupos de capoeira no mundo.
Paulo Sérgio da Silva foi aluno de seu irmão, Luiz Américo da Silva, o Mestre Mintirinha, que ele considera como seu “primeiro e único mestre”. Foi Mintirinha, inclusive, que deu a ideia do nome do grupo que denomina uma filha de santo no Candomblé de Angola e também a primeira dança pública das recém-iniciadas.
Antes da criação do grupo, Paulão fazia parte do Obaluaiê, grupo do Mestre Mintirinha. Já nessa época Paulão sentia a necessidade de criar um grupo só para ele. A proposta inicial do Grupo Muzenza era ser uma escola de capoeira num estilo mais tradicional. Nos primeiros anos de sua existência, passou a participar de importantes eventos da capoeiragem no Rio como, por exemplo, o 1º Campeonato Carioca Individual de Capoeira, em julho de 1975. Nesse evento, organizado pela Confederação Brasileira de Pugilismo, Márcio de Freitas Matias, integrante do grupo, consagrou-se vice-campeão no peso médio do cordel amarelo e azul. Além deste evento, o grupo participou também do Torneio Interclubes de Capoeira de 1976.
Paulão deu aulas no grupo até 1978, momento em que teve que se dedicar inteiramente a sua carreira militar. Nessa altura, Burguês, que tinha sido seu aluno e já estava desenvolvendo um trabalho no grupo, migrou para Curitiba e lá continuou a trajetória do Grupo Muzenza. Através do trabalho do Mestre Burguês o grupo e a capoeira no Paraná foram crescendo, principalmente a partir do final da década de 1980.
Já nas mãos do Mestre Burguês, a parte técnica da capoeira da Muzenza procurou se diferenciar do estilo de capoeira predominante no Rio de Janeiro, que privilegiava a capoeira-luta. Buscando aprimorar seus conhecimentos dos fundamentos da capoeira, Mestre Burguês empreendeu viagens à Bahia e, dessa forma, começou a desenvolver uma metodologia própria que vinculasse a capoeira luta e a capoeira arte. Assim, desenvolveu um método coreografado para melhor ensinar seus alunos, chegando esse método às 22 sequências.
Segundo Mestre Burguês, uma das características do “jogador da Muzenza é saber jogar subindo e descendo (jogo alto e jogo baixo), saber os toques e os fundamentos. Não tem necessidade de que todos ginguem iguais porque nós não obrigamos ninguém a fazer isso. O nosso forte é trabalhar bastante a velocidade e treinar com objetividade, não se desgastar ou dar golpes em vão”. O jogo do Grupo Muzenza desenvolveu-se a partir desses aprendizados das escolas de capoeira na Bahia e no Rio de Janeiro, resultando disso “um estilo moderno e estilizado” (Sousa, 2015). Ou seja, buscar inspiração tanto na capoeira moderna, quanto na tradicional, assim como o respeito pela individualidade de cada jogador, são características importantes para esse grupo. Muitos alunos avançados do Muzenza se orgulham de ter desenvolvido um estilo próprio, tendo em vista os antigos mestres do grupo insistirem que o estilo deve se encaixar ao capoeirista, não o contrário.
Desde o final dos anos oitenta outros grupos no Brasil começam a mostrar interesse em se filiar à Muzenza. Como resultado, o Grupo Muzenza está presente hoje em todos os estados brasileiros e em 52 países, constituindo um dos grupos com maior número de associados no mundo ‑ já chegavam a 25.000 no ano 2000! Conta com mestres, contramestres, professores e instrutores com décadas de experiência na capoeira, num total de 706 professores cadastrados lecionando pelo mundo com o nome Muzenza (cf. dados de março de 2020). Com um uniforme composto por calça, camiseta e calçado brancos, o grupo utiliza uma orquestra composta por atabaque, três berimbaus, agogô e reco-reco. Quanto aos toques são seis: Angola, São Bento Pequeno, São Bento Grande de Angola, Iúna, São Bento Grande da Regional e Banguela. O uniforme e a bateria do Muzenza refletem bem essa união entre o tradicional e o contemporâneo. Incorporam elementos da capoeira tradicional na bateria e elementos da capoeira regional contemporânea como no uniforme branco com graduações.
Desde 2013, o Grupo Muzenza realiza o encontro de professores de educação física, pedagogos, psicólogos, historiadores e fisioterapeutas que trabalham com capoeira – ENCAMUZENZA. Os resultados desses encontros são publicados em forma de livro pelo grupo com o título Textos de Capoeira.
Fontes:
Jornais da época
Entrevistas com Mestre Paulão da Muzenza, Mestre Burguês e alunos do Muzenza.
SOUSA, Joelson Silva de. Que capoeira a Muzenza joga? In: MENEZES, Antonio Carlos de (Mestre Burguês) (Org.). Textos de Capoeira – Grupo Muzenza de Capoeira. Rio de Janeiro, 2015.