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29th fevereiro 2024 4
Geral, 1ª República, Maranhão, Outras lutas, Outros estados

O Jogo da Navalha

O Jogo da Navalha
29th fevereiro 2024 4
Geral, 1ª República, Maranhão, Outras lutas, Outros estados

Por Roberto Pereira.

Pouco se sabe acerca do uso da navalha na capoeira antiga. Alguns estudiosos atribuem sua origem a uma influência portuguesa. Outros, a uma influência africana, haja visto que os africanos dominavam no Brasil o ofício de barbeiro-sangrador, sendo, portanto, habituados ao manejo da navalha.

Sem sombra de dúvidas, podemos afirmar que se tratava de uma das diversas armas ─ como pedras, paus, facas, cacetes ─ usadas pelos capoeiras em suas escaramuças pelas ruas, becos e praças de diversas cidades do Brasil, até meados do século XX.

Na verdade, a navalha não era uma arma exclusiva dos capoeiras. Basta dar uma vasculhada nas páginas policiais da imprensa ao longo dos século XIX e grande parte do XX, para se ter a dimensão do uso dessa temida arma em conflitos por populares, tanto por homens quanto por mulheres. Em outras palavras, nem todo navalhista era um capoeira. Todavia, no século XIX a navalha se tornou uma arma tão associada aos capoeiras que, segundo o historiador Líbano Soares, especialista no assunto da capoeiragem antiga, ainda naquele século a navalha se tornara o maior símbolo da prática.

Cacau Com Navalha Na Mão
Kaká Serafim, durante cena do filme.

Bem pouco conhecida na atualidade, mesmo entre os capoeiras, a navalha foi lentamente perdendo espaço no meio da capoeiragem. Seu declínio ocorreu paralelamente à emergência de uma capoeira desportiva e voltada para o mercado de entretenimento, a partir de meados das primeiras décadas do século XX, na Bahia e no Rio de Janeiro, em particular.

Essa nova capoeira, moderna, em busca de novos públicos e de clientes que pudessem pagar para vê-la ou para aprendê-la, progressivamente se adaptou aos ringues, palcos e espetáculos. A adaptação aos tempos modernos trouxe consigo uma releitura de seu passado, visto como violento, sangrento e associado às temidas maltas do século XIX. Releitura que desembocaria, já por volta do início do século XXI, em um discurso de “capoeira cidadã”, onde os capoeiras não se tocam na roda e qualquer sinal de violência é apontado como algo alheio à prática. Nada mais falacioso.

Assim, ainda no século XX, o berimbau destronou a navalha como o maior símbolo da capoeira. A despeito desse quase completo apagamento da navalha, seu uso e manejo por capoeiras, prática que, como se vê, remonta aos tempos da escravidão, não desapareceu. Alguns raros mestres conseguiram preservar e transmitir esse ensinamento ancestral a alguns poucos discípulos que se incumbiram de perpetuar a tradição do jogo da navalha.

Cacau Olhando Pela Janela
Nesse cenário nacional, São Luís, do Maranhão, se destaca como um dos maiores, se não o maior, redutos de navalhistas do Brasil.

O documentário

Esse documentário ficcional que agora disponibilizamos ao público é uma pequena contribuição para trazer à tona a importância da navalha na história da capoeira. Além disso, trata-se de uma forma de apresentar ao público o próprio jogo da navalha, amplamente desconhecido.

Iniciamos gravações do filme em 2018, de forma completamente independente, e concluímos em 2023, quando conseguimos um pequeno recurso para sua finalização. Para sua realização, contamos com a participação fundamental e indispensável de dois grandes navalhistas maranhenses, o mestre Kaká Serafim (Cláudio Serafim) e o contramestre Jorcelso Sousa, herdeiros de uma linhagem de navalhistas que tem como ancestral outro exímio navalhista e mestre de capoeira: Alberto Euzamor.

Que o filme proporcione um bom debate. E que as novas gerações conheçam e contribuam para a preservação desse que é mais um elemento fantástico da cultura negra brasileira.

Grande Axé!

Aproveite para assistir o documentário ficcional O Jogo da Navalha:

Sinopse:

Antes do berimbau, a navalha era o maior símbolo da capoeiragem. Navalhistas e capoeiras eram o terror da sociedade escravista. Séculos depois, São Luís do Maranhão permanece um dos maiores redutos de navalhistas do Brasil.

Ficha técnica:

Pesquisa, Roteiro e Direção: Roberto Pereira
Direção de fotografia: Paulo do Vale
Montagem e finalização: Marcelo Souza
Trilha e mixagem de som: André Piruka
Produção: Coletivo Volta do Mundo e Ina Ilha
Som direto: Inaldo Aguiar
Segunda câmera: Roberto Pereira

Elenco:

Mestre Kaká Serafim
Mestrando Jorcelso Sousa

Roberto Pereira é diretor de Cinema pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro (RJ) e Doutor em História Comparada pela UFRJ. É autor de Rodas Negras – capoeira, samba, teatro e identidade nacional (Perspectiva, 2023). Dirigiu e roteirizou filmes exibidos em festivais de cinema e eventos estaduais, nacionais e internacionais. Foi Visiting Fellow no Departamento de História da Universidade Harvard.

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4 comments

CARLOS GUSTAVO BARBOSA DE SOUSA disse:
28th abril 2025 às 2:54 pm

Cara gostei muito do seu trabalho. Acredito que você deveria pensar em produzir um longa, não como documentário mas sim como um filme com história isso poderia colocar a nossa arte marcil dentro do olhar do mundo todo.

Responder
Francisco Gonçalves Filho disse:
5th novembro 2024 às 11:29 pm

Em relação ao documentário “O jogo da navalha”, destaco que a atuação em meio há um cenário típico de época (dada a preservação histórica), tanto do Mestre Kaká Serafim quanto do Contramestre Jorcelso Sousa é espetacular, dramática e altamente pedagógica, pois não só lutam utilizando a navalha como nos velhos tempos, mas o fazem com a melhor forma escolhida: a de um contexto concreto, de alguém que antes do combate toma a decisão, treina, afia sua ferramenta, faz suas orações, escolhe o melhor momento e parte para o decisivo combate. Naquele tempo e naquele contexto, a capoeira e seus instrumentos de ação eram coerentes com as necessidades de existência e de resistência da comunidade negra. Parabéns pelo documentário que agora o utilizamos como documento pedagógico obrigatório para o conhecimento de um momento histórico fundamental da origem de nossa capoeira, anterior à angola, anterior à regional ou contemporânea. Está na origem!

Responder
Francisco Gonçalves Filho disse:
5th novembro 2024 às 11:16 pm

Excelente introdução e contexto da história da capoeira, bem como de produção deste material. O texto nos ajuda a ir para além da projeção do filme e sim, para uma dinâmica Roda de Conversa a respeito do documentário. Parabéns. E vamos ao filme e à Roda!
Prof. Dr. Francisco Gonçalves Filho (NEAF/UFT Miracema).

Responder
assuncao disse:
13th novembro 2024 às 10:43 pm

Obrigado, Francisco!!

Responder

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