Por Matthias Röhrig Assunção.
O Arco do Teles
O Largo do Paço e seus arredores abrigava negociantes de “grosso trato”, que fizeram fortunas com o comércio transatlântico, seja importando mercadorias europeias e africanos escravizados, seja exportando produtos coloniais.
Um desses negociantes, Antônio Teles Barreto de Menezes, construiu um conjunto de casas em frente ao Paço Imperial e as alugava para comerciantes.
Para permitir acesso ao mercado de peixe logo atrás, fez abrir uma passagem coberta por um grande arco de cantaria, típico das construções portuguesas setecentistas. O espaço debaixo do arco, protegido da chuva, virou refúgio dos negros Angolas e Benguelas, que ali tocavam seu arco musical, o Urucungo (também grafado Oricongo). Ali, como descreve o cronista Mello Moraes Filho:
[Os] velhos trovadores de Benguela e de Angola, maltrapilhos, nus da cintura para cima, encostavam ao ventre enrugado e negro as cuias de suas marimbas, e o casco de coco de seus urucungos em arco, ao som de cujas toadas nativas deliciavam seus conterrâneos…”.
A Capoeira
A capoeira também esteve presente no Largo do Paço, hoje Praça XV, onde, ao redor do Cais Pharoux, se aglutinava a malta da Marinha. Essa malta se aliou aos Três Cachos, na Santa Rita, para se proteger da proximidade da malta dos Carpinteiros, baseada na Igreja de São José. Dessa forma, a praça se configurou no limite entre a federação Guaiamu e a dos Nagôas, sendo palco de confrontos violentos, com paus e navalhas.
O mesmo local, mas já com o nome de Praça Dom Pedro II , foi palco de violenta repressão à capoeira quando, para celebrar a Proclamação da República, trocaram o nome do logradouro para Praça XV de Novembro. A praça continuou a dar dor de cabeça para as autoridades, que consideravam, ainda em 1903, que o Cais Pharoux e a Praça XV “eram logradouros infectos de toda a sorte de vagabundos” (citado em Colchete, Praça XV, p. 56).
A Praça XV é um exemplo, e apenas um, de como se enlaça a história da capoeira com a rica história da cidade do Rio de Janeiro.
Uma boa olhada na Roda do Teles!
Hoje ainda tem capoeira no Arco do Teles. É uma roda aberta, onde camaradas se encontram e novas amizades se fazem. Tudo seguido pelo samba de roda de praxe. A Roda do Arco do Teles acontece a cada segundo sábado do mês, a partir das 14 horas, organizada pelo Contramestre Fábio Chapéu de Couro e Alessandra Morioka (a “Japa”).
A Roda do Teles no clip em 360 graus: entre nessa roda com a gente!
Você se sentirá um capoeirista na roda que acontece no lugar mais antigo do Rio de Janeiro.
Para saber mais:
Vivaldo Coaracy. Memórias da Cidade do Rio de Janeiro. Belo Horizonte e São Paulo: Itatiaia e EdUSP, 1988.
Antonio Colchete Filho. Praça XV. Projetos do espaço público. Rio de Janeiro: Sete Letras, 2008.