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31st agosto 2023 1
Geral, Grupos, Outros estados, Piauí, Século XXI

Política e capoeira em Teresina, Piauí: linhagens, federações e partidos políticos

Política e capoeira em Teresina, Piauí: linhagens, federações e partidos políticos
31st agosto 2023 1
Geral, Grupos, Outros estados, Piauí, Século XXI

Por Celso de Brito.

Encontros e desencontros

A capoeira teresinense surge na década de 1970 e se consolida na década seguinte com uma série de encontros e desencontros. Entre as tradições que se encontraram e formaram a capoeira da cidade estão as de Mestre Zé da Volks, de São Paulo, Mestre Mão-de-Ouro, de Brasília, e Mestre Camisa, do Rio de Janeiro. Os desencontros, por sua vez, foram fundamentais para a formação da comunidade capoeirística local, cujos contornos são visíveis até os dias atuais.

Ponte estaiada com vista de Teresina. Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina.
Ponte estaiada com vista de Teresina. Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina.
As “rodas de rua” foram o palco para lutas entre “bandeiras” em torno de um mercado incipiente da capoeira. Obviamente que os anos fizeram com que essas tradições se segmentassem e outras tradições se instalassem, mas, apesar de extremamente fragmentadas em grupos, as primeiras duas linhagens que se consolidaram e formaram a comunidade capoeirística local ainda funcionam como referências para “renovados” processos sociais, tais como as atuais formações de federações e as filiações político-partidárias.

Entre os representantes locais das principais linhagens, estão os piauienses Mestre Albino, líder e fundador do Grupo de Capoeira Escravos Brancos, que migrou para São Bernardo do Campo – SP, no início da década de 1970, onde aprendeu capoeira com mestre Zé da Volks; e os irmãos mestres Bobby, Chocolate e Tucano que se uniram a John Grandão para representarem o antigo Grupo Senzala Piauí e, posteriormente, o Abadá Piauí, sob a coordenação geral de Mestre Camisa. Com exceção de Mestre Albino, todos os outros mestres piauienses encontram-se, hoje, em outros grupos.

Mestre Albino recebe homenagem do Exército do Piauí e Mestre John o prestigia. 2005. Acervo Mestre Albino.

As federações

A capoeira teresinense está fortemente atrelada à estrutura burocrático-administrativa das federações desde seu primórdio. Mestre Albino, quando retornou de São Bernardo do Campo em 1977, trouxe para o Piauí, além dos ensinamentos de Mestre Zé da Volks, o modelo da Federação Paulista de Capoeira. Funda então a Federação Piauiense de Capoeira (FPC) e tenta agregar todos os capoeiristas locais em torno dos seus princípios. 

Contudo, M. Albino permanece apenas em companhia dos seus “formados”, membros do Grupo Escravos Brancos, visto que os mestres filiados ao Grupo Senzala se opunham aos princípios fundamentais da federação, sobretudo ao sistema de graduação e às regras para competições esportivas.

Cartaz do grupo Escravos Brancos.
Logo da Federação Piauiense de Capoeira
Logo da FECAPI - Federação de Capoeira do Piauí.

Anos se passaram e esse modelo das federações se tornou hegemônico na cidade. A princípio, foi sentido como condição imposta pelo poder público para a obtenção de subsídios a eventos. Como diz mestre Albino, “sempre houve uma pressão das autoridades, toda vez que íamos na secretaria, qualquer capoeirista, eles diziam: ‘não, tem que ser todo mundo junto, tem que vir uma federação’”. Depois, a federação passou a ser entendida como uma unidade política de onde as demandas e estratégias para obtenção direitos surgiam. A nova geração de mestres, herdeira da linhagem do antigo Senzala Piauí, percebeu a importância que a burocratização da capoeira adquiria na cidade e fundou sua própria federação, a Federação de Capoeira Piauiense (FECAPI).

Eleições municipais e candidatos capoeiristas

Nos últimos anos, a capoeira teresinense tem buscado eleger um capoeirista como vereador, com o argumento de que o número de capoeiristas da cidade seria grande o suficiente para a eleição, bastando para tanto a mobilização da comunidade em torno de uma “candidatura única” sob o clamor de capoeirista vota em capoeirista!”. No entanto, além do fato de não haver indícios de que haja 1.500 capoeiristas votantes na cidade (1), tanto a FPC quanto a FECAPI apresentaram suas candidaturas próprias, reduzindo pela metade as chances de sucesso nas eleições de 2020.

(1) A definição das eleições municipais dependem da relação entre número de habitantes votantes e número de vagas para vereadoras na câmara, este número e chamado de Quociente Eleitoral (QE). A partir do QE define-se o número de votos que cada partido (ou coalisão de partidos) deve obter para garantir uma vaga na câmara. Cada candidato deve obter no mínimo 10% dos votos do total deste QE. Em Teresina, o QE é cerca de 15.000 votos. Então, para um candidato se eleger, ele deve fazer parte de um partido que obteve no mínimo 15.000 votos, ele próprio ser o candidato mais votado entre os candidatos do seu partido (ou coalisão) com, no mínimo, 1.500 votos.

A FPC apoiou Marcelo Capoeira (PSD), ex-discípulo de Mestre Albino no Grupo Escravos Brancos, que conquistou 581 votos. A FECAPI apoiou a chapa coletiva Capoeira e Periferia (PCdoB), formada quase que inteiramente por seus associados: Contramestre Boquinha, Mestre Kunta, Mestre Parafuso e Dj Laís, que obteve 108 votos.Mais interessante que o resultado da votação em si é a dinâmica segmentária das candidaturas, que corresponde às diferenças entre as duas principais linhagens representantes das duas federações de capoeira estaduais.
Contramestre Boquinha e Mestre John Grandão em batizado do Grupo Senzala em Teresina. 1989. Acervo Contramestre Boquinha.
Aniversário de 20 anos do Grupo Escravos Brancos: Mestre Albino, Mestre Oscar, Contramestre Bobby. 2000. Acervo Mestre Albino)
Evento do grupo Abadá Teresina: Mestre Bobby, Mestre John, Professora Cândida, Mestre Tucano e Contramestre Boquinha. 1995. Acervo Contramestre Boquinha).

O desafio que transcende a comunidade local

A burocratização da capoeira teresinense na forma de federações é vista como inerente à própria prática, mas insuficiente para a garantia de direitos dos capoeiristas, o que motiva a ação político-partidária e a busca por representatividade na câmara de vereadores.

Há aqui um desafio que se apresenta a partir da contradição entre uma força que tende a separar e garantir a diversidade da capoeira e outra força que busca agregar e fortalecer a comunidade como um todo.

Infelizmente, depois de muitas tentativas de unificação da comunidade geral, os capoeiristas teresinenses seguem reproduzindo, no âmbito burocrático e político, as divergências existentes no campo das linhagens. É o que também vemos acontecer em escala nacional, com a criação do Partido Brasileiro da Capoeira (PBC). A intenção dos mestres envolvidos era reunir a comunidade nacional e eleger alguns deputados que de fato representassem a capoeira no Congresso. Porém, antes mesmo de conseguirem o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PBC se dividiu e surgiu um partido de oposição, o Partido Nacional da Capoeira (PNC).

Ambos seguem com o árduo trabalho para reunir delegações estaduais (agora divididas) para conseguirem registrar os partidos no TSE.

Eis o desafio para os capoeiristas de Teresina, do Brasil e talvez do mundo: manter a riqueza da capoeira com suas linhagens, tradições, estilos e ideologias próprios, criando ao mesmo tempo pontes políticas que fortaleçam a comunidade como um todo. Pois se há muitas diferenças, há de haver muitos pontos de convergência!

Celso de Brito é doutor em antropologia social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Hoje é professor Adjunto do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Na capoeira, é professor desde 2018, responsável pelo Grupo de Capoeira Angola Zimba em Teresina, Piauí.

Leia o artigo completo sobre o tema:

BRITO, Celso de; SILVA, Robson Carlos da. A capoeira teresinense: linhagens, federações e suas posições no espectro político. Revista Entrerios, vol. 4, n. 2, p. 60-97, (2021). Disponível em: https://revistas.ufpi.br/index.php/entrerios/article/view/12938/8235. Acessado em jun. 2023.

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1 comments

Rafael Silva disse:
1st abril 2025 às 3:22 pm

Artigo fornece insights relevantes para a releitura da história sociocultural da Capoeira teresinense, abordando aspectos inovadores quanto a relação político-ideológica que sempre rondaram o meio capoeirístico, tão bem desvelado pelo presente trabalho dos autores. Saudações ao Mestre Bobby e ao Celso de Brito por suas contribuições a Capoeira de Teresina.

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