CAPOEIRA CONTEMPORÂNEA
  • Capoeira no RJ
    • O projeto
    • Lugares de Memória
    • Capoeira na sociedade e cultura
    • Rodas
    • Mestres
    • Grupos
    • Malandros da Antiga
  • Raízes Angolanas
    • Sobre o projeto
    • O filme
    • Os Nhaneca-Nkhumbi
    • Notícias
    • Eventos & Exibições
  • Blog
  • Sobre o site
    • Consultores 2025-2027
    • Consultores 2019-2024
    • Colaboraram com conteúdo
  • Links
  • English
  • Português
9th fevereiro 2023 1
Geral, Biografia, Literatura, Malandros

As Aventuras de um Capoeira no Reino mágico da Literatura de Cordel

As Aventuras de um Capoeira no Reino mágico da Literatura de Cordel
9th fevereiro 2023 1
Geral, Biografia, Literatura, Malandros

Por Lobisomem (Victor Alvim Itahim Garcia).

Nascido e criado no Rio de Janeiro, só tive contato com a literatura de cordel, cujo berço é a região Nordeste, depois de meus 18 anos. Nessa idade, ao me iniciar na capoeira, aumentei meu interesse por toda a cultura popular brasileira. Nos livros sobre folclore, nos sebos, nas bibliotecas (em especial a do Museu Edison Carneiro) descobri o cordel e tornei-me leitor e comprador de folhetos.

Anos mais tarde, instintivamente escrevi, num caderno, umas sextilhas em homenagem a Mestre Camisa, que estava prestes a completar 50 anos. Nāo tinha a intenção de publicar, mas fui incentivado por J.Victtor e Gonçalo Ferreira da Silva (este último, cordelista, fundador e presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel).

Com uma festa de lançamento na Feira de São Cristóvão, reduto do cordel e da cultura nordestina no Rio, recebi também o apoio de Mestre Azulão, Marabá, Gilberto Teixeira, Erivaldo Ferreira, Miguel Bezerra, Duda Viana, Zé Duda e outros artistas do lugar.

Depois de me aventurar a escrever e publicar este primeiro folheto, foram as histórias de Besouro Mangangá que me inspiraram a continuar e partir para o segundo título. Eu via, nas narrativas que conhecia, similaridades com o que lia nos cordéis sobre Lampião e outros cangaceiros: corpo fechado, embates com policiais, fugas espetaculares e misteriosas, justiçamento contra a covardia de coronéis sobre trabalhadores e outras.

O cabo entāo gritou
– Eu sou a autoridade
E vou prender o senhor
Que tem fama na cidade
Vou mostrar que também sou
um valentão de verdade!

Besouro entāo partiu
Para cima do abusado
Aplicou-lhe uma rasteira
e o deixou estatelado
Também tomou o revólver
e o chapéu do coitado

Besouro saiu sorrindo
pelo Beco do Xaréu
O cabo atrás gritando:
Pelo amor de Deus do Céu!
Me devolva meu revólver
e também o meu chapéu!”

Então me empolguei e segui escrevendo e publicando. Manduca da Praia, lendário capoeira do Rio Antigo, foi um dos títulos que se seguiram esta mesma linha:

Manduca avistou os cinco
e preparou o levante
No primeiro a sua frente
Ele deu um galopante
na orelha do sujeito
que caiu no mesmo instante

Um outro veio pra cima
Manduca cambaxirrou
Deu-lhe uma lamparina
e outra vez floreou
O homem caiu na ébia
Com uma banda arriou

Vieram três de uma vez
E Manduca disse: – Venha!
Comecem logo a fazer
Promessa pra Santa Penha
pra ver se vocês escapam
de cair na minha lenha!”

E logo depois, homenageei, também com um cordel , Nascimento Grande, valentāo pernambucano famoso no Recife:

Mas os policiais viram
onde ele tinha subido
Em cima de um telhado
O avistaram escondido
E gritaram: – Se entregue!
Pois senāo está perdido!

La do alto do telhado
De cinco metros de altura
Nascimento se jogou
no teto da viatura
comprovando a sua audácia
neste ato de bravura.

E baixou a bengalada
nos quatro policiais
que ficaram abismados
e correram por demais
E com Nascimento Grande
nāo se intrometeram mais.”

Escrever sobre Madame Satã já estava nos meus planos há alguns anos e a parceria com o Matthias e projeto Capoeira History me fez retomar esta vontade e concretizá-la em 2019.

No meu ver, Madame Satã está na mesma linhagem de valentia, bravura, audácia e malandragem que Besouro, Manduca da Praia e Nascimento Grande. Com o diferencial de ter vivido um tempo mais próximo ao nosso presente e de suas histórias, apesar dos exageros, terem sido registradas e documentadas, inclusive os 27 anos que comprovadamente passou preso em cadeias diversas. E parece que mesmo depois de morto, não aposentou-se nas valentias e continua não aturando desaforo:

Conta a lenda que ao morrer
pro inferno foi levado
Que ao adentrar o recinto
O diabo debochado
Olhou pra Satā gritando:
– Lá vem vindo esse veado!

Então Madame Satā
no diabo deu rasteira
Galopante de canhota
e um tombo da ladeira
Fez o capeta chorar
pra nāo falar mais besteira.”

Viva Madame Satā, camará!

Aproveite e baixe aqui o cordel As Valentias de Madame Satã, de Victor Alvim. Clique aqui!
Assista conosco o poeta declamando trechos de seu cordel em homenagem a Madame Satã por ocasião do lançamento do website CapoeiraHistory.com.
Artigo anteriorMestre Cosmo e seu legado para a capoeira de PiracicabaPróximo artigo As coleções vivas do Brasil, de Helinä Rautavaara

1 comments

Antônio Carlos Santos Cabral disse:
9th fevereiro 2023 às 10:12 pm

Lobisomem capoeira é o melhor 👏🏽👏🏿👏🏾👏👏🏻👏🏼

Responder

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Categorias

  • África (4)
    • Angola (1)
    • Bantu (2)
  • Antropologia (4)
  • Biografia (13)
  • Capoeira no Rio de Janeiro (52)
    • 1ª República (8)
    • Atlântico negro (2)
    • Brasil Império (3)
    • Ditadura (1964-85) (3)
    • Época colonial (2)
    • Era Vargas e Populismo (1930-64) (4)
    • Exibições (1)
    • Grupos (7)
    • Grupos de capoeira (3)
    • Iconografia (1)
    • Literatura (1)
    • Lugares da capoeira (4)
    • Lugares de memória (4)
    • Malandros (3)
    • Malandros da antiga (8)
    • Outros estados (11)
      • Bahia (3)
      • Maranhão (2)
      • Pará (1)
      • Piauí (1)
      • São Paulo (4)
    • Rio de Janeiro (7)
    • Rodas (1)
    • Rodas de capoeira (6)
    • Século XXI (9)
    • Sociedade (2)
    • Sociedade e cultura (4)
    • Textos Clássicos (2)
  • Caribe (3)
  • Escravidão (3)
  • Fake news (1)
  • Geral (66)
  • Globalização (6)
  • Historiografia (8)
  • Índico Negro (1)
  • Mulheres na capoeira (1)
  • Outras lutas (9)
  • Raízes angolanas (2)
    • Benguela (2)
  • Relações étnico raciais (2)

Recent Posts

Kokobalé, the Afro-Puerto Rican Martial Art4th April 2025
Mestre Pastinha: the written mischiefs of a capoeira-author21st February 2025
The origins of savate, chausson and French boxing (1798-1842)4th January 2025
Students of Mestre Roque8th December 2024
2024 Global Martial Arts Forum1st November 2024

Tags

BBC. Capoeira. Ident. Camisa Preta. Malandro. Capoeira. Carnaval. Blocos de embalo. Cacique de Ramos. Bafo da Onça. Capoeira. Primeira República. São Paulo. Capoeira e Política. Maltas. Capoeira crioula e capoeira escrava. Capoeira nas ruas. São Paulo. Maltas. Primeira República. Capoeira no exterior. Profissionalização. Transnacionalização. Capoeira songs. Festival Galo já Cantou. Competition. Rádio Capoeira. Mestre Paulão Kikongo. Mestre Alexandre Batata. Engolo. Neves e Sousa. Câmara Cascudo. Mestre Pastinha. Escola de samba. Mangueira. Mestre Leopoldina. Salgueiro. Viradouro. Grupo de capoeira. Kapoarte. Filhos de Obaluaê. Mestres Mintirinha História Atlântica. Benguela. Angola. África. Escravidão. Tráfico de escravizados. Mariana Candido. Rio de Janeiro. Raízes angolanas da capoeira. Khorvo and Silas. Lapa. Boêmia. Maxixe. Malandragem. Mulher. Empoderamento. Mestra Cigana. Mestra Janja. Música de capoeira. Festival Galo já Cantou. Concurso. Rádio Capoeira. Mestre Paulão Kikongo. Mestre Gegê. Paulão Paulão. Burguês. Mintirinha. Piriquito Prata Preta. Revolta da Vacina. Desterro. Acre. Roda de Capoeira. Central do Brasil. Mestre Mucungê. Roda de Capoeira. Zé Pedro. Bonsucesso. Rua Uranos. Roda do Lavradio. Lapa. Mestre Celio Gomes. Aluandê. GCAP. Sete Coroas. Malandro da antiga. Primeira República.

Dedicated to the history of capoeira.

Our aim is to provide you with reliable information, which is backed up by research and evidence. The massive growth of capoeira worldwide has created an increased need for information on its history and traditions.

Informação de contato

capoeirahistory@gmail.comhttps://capoeirahistory.com/
@ Contemporary Capoeira 2021 - Privacy policy | Terms of use

Bem-vindo

a capoeirahistory.com, um website dedicado à história da capoeira.

Categorias

  • 1ª República
  • África
  • Angola
  • Antropologia
  • Atlântico negro
  • Bahia
  • Bantu
  • Benguela
  • Biografia
  • Brasil Império
  • Capoeira no Rio de Janeiro
  • Caribe
  • Ditadura (1964-85)
  • Época colonial
  • Era Vargas e Populismo (1930-64)
  • Escravidão
  • Exibições
  • Fake news
  • Geral
  • Globalização
  • Grupos
  • Grupos de capoeira
  • Historiografia
  • Iconografia
  • Índico Negro
  • Literatura
  • Lugares da capoeira
  • Lugares de memória
  • Malandros
  • Malandros da antiga
  • Maranhão
  • Mulheres na capoeira
  • Outras lutas
  • Outros estados
  • Pará
  • Piauí
  • Raízes angolanas
  • Relações étnico raciais
  • Rio de Janeiro
  • Rodas
  • Rodas de capoeira
  • São Paulo
  • Século XXI
  • Sociedade
  • Sociedade e cultura
  • Textos Clássicos

capoeirahistory.com