A capoeira quase tinha desaparecido das ruas da cidade do Rio de Janeiro após a grande repressão das maltas pelo chefe de polícia Sampaio Ferraz, no início da Primeira República. No entanto, algumas de suas técnicas corporais e de sua cultura musical entraram para a pernada carioca, por ocasião das batucadas de samba. Já os seus golpes mais perigosos somente eram treinados em lugares escondidos, em alguns morros, para serem usados em brigas de rua por valentões, como Madame Satã, que se destacou em muitas disputas. Seus feitos impressionaram uma geração de futuros capoeiristas e transformaram Madame Satã em um caráter ímpar no universo da capoeira carioca: ele representa, melhor que ninguém, a capoeiragem dos malandros antigos, da mesma forma que influencia a capoeira moderna, desenvolvida nas décadas de 1950 e 1960 no Rio de Janeiro.
Madame Satã representa muitas das contradições da sociedade em que vivia. Foi praticamente escravizado quando menino e teve que sobreviver nas ruas e também nos presídios, onde passou parte de sua vida atribulada. Sua orientação sexual (gostava de homens e tentou uma carreira artística vestindo-se de mulher no palco) o expôs a abusos constantes no ambiente homofóbico que o cercava. Como explica na sua autobiografia, muitos homens não conseguiam aceitar que uma “bicha” fosse também um valentão. Daí a constante provocação por parte de homens heteronormativos, muitos deles policiais, resultando em brigas repetidas e muita perseguição. Madame Satã tornou-se um herói, já na década de 1970, para a mídia alternativa como O Pasquim e para alguns capoeiristas impressionados por suas façanhas.
O cordel
Nesse momento em que procuramos resgatar a rica história da capoeira no Rio de Janeiro, nada mais justo que prestar uma homenagem a Madame Satã na forma desse cordel, de autoria de Victor Alvim, o Lobisomem, o poeta que nos brindou com os versos do cordel As Valentias de Madame Satã.
Você pode ler a íntegra do cordel especialmente produzido para o projeto CapoeiraHistory.com. Além dos versos de Lobisomem, a obra traz na capa uma bela xilogravura de Erivaldo. Aproveite!
Baixe aqui!
O texto completo do cordel As Valentias de Madame Satã, de Victor Alvim.
Post e vídeo!
O post de Lobisomem traz ainda a primeira parte do vídeo com o poeta recitando seu cordel.
O vídeo
Autor de vários títulos em literatura de cordel, Victor Alvim escreveu para o CapoeiraHistory o post As aventuras de um capoeira no reino mágico da literatura de cordel, onde fala sobre seu processo criativo e suas publicações.
No post você também encontra a primeira parte do vídeo com a leitura que o poeta fez do seu cordel As aventuras de Madame Satã, por ocasião do lançamento do site CapoeiraHistory.com, no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, em 2019.
O personagem
O CapoeiraHistory também agradece a Geisa Rodrigues, autora do estudo mais completo sobre Madame Satã.
Ela escreveu um texto introdutório especialmente para o site: Madame, o Satã da Lapa.
Leia o artigo!
Madame, o Satã da Lapa é o texto de Geisa Rodrigues disponível para você!
Para ouvir!
Madame Satã, samba de Totonho e Paulinho Rezende, gravado por Jurema, em 1977.
Fica a dica:
O pesquisador e capoeirista Rouxinol nos recomendou a audição de Madame Satã, samba de Totonho e Paulinho Rezende, lindamente gravado por Jurema, na coletânea Aqui dentro: música, LP de 1977. Aproveitamos para compartilhar o link do canal YouTube do DJ Renato Vervloet onde localizamos a gravação.
Vocês poderiam fazer uma matéria sobre o Capoeirista Luiz Aguiar “Cirandinha” famoso no Rio de janeiro e considerado o maior capoeirista da época em 1953 quando fez uma luta de vale tudo contra Carlson Gracie na quadra do Vasco da Gama. Além de Capoeirista era também praticante de Boxe e levantamento de pesos tendo sido campeão estadual e era também um valentão e brigador de rua…
Obrigado pelo comentário, Ronaldo. Você tem material sobre o Cirandinha?