Mestre Mário Buscapé

Mário dos Santos, mais conhecido como Mestre Mário Buscapé, nasceu em 1934 num povoado perto de São Francisco do Conde, no Recôncavo baiano.

Matthias Röhrig Assunção (20 de abril de 2020)

Segundo ele mesmo conta, sua mãe era mariscadeira e seu pai era caranguejeiro. Seu pai, José Bidel, e seu tio, de apelido Dendê, praticavam capoeira e conheciam capoeiras famosos do Recôncavo como Siri de Mangue, Canário Pardo e Besouro, de Santo Amaro. Segundo Mário, Besouro até frequentava sua casa, mas isso deve ter sido antes de ele nascer, pois Besouro foi morto em 1924.

Mário começou a se familiarizar com a capoeira desde criança, nas rodas improvisadas no terreiro de sua casa, sendo seu tio Dendê seu primeiro professor. Quando adolescente foi empregado (e praticamente escravizado, segundo seu testemunho) em uma fazenda da vizinhança. Em busca de uma vida melhor, veio para o Rio de Janeiro com uma tia, no início da década de 1950. Foi morar no Jacarezinho e seu primeiro trabalho era colocar placas de sinalização e tampas na via férrea para evitar acidentes. Depois trabalhou muitos anos na empresa de postes Cavan.

Ali conheceu Irineu dos Santos, e Mário começou a ensinar-lhe os primeiros passos da capoeira. Logo conquistou outros adeptos para praticar capoeira, entre eles os irmãos de Irineu, Zé Grande e Deraldo, curiosamente eram todos da família dos Santos, também baianos do Recôncavo, mas sem parentesco com Mário Buscapé.

Mestre Mário Santos. Foto Acervo M. Soldado.

Em 1953 fundaram o grupo de capoeira Bonfim, depois também conhecido como “Capoeiras do Bonfim”. O grupo, inicialmente, ocupou um pequeno espaço no bairro de São Cristóvão. Como escreveu André Lacé:

Lá não permaneceram por muito tempo, pois o espaço tornou-se pequeno devido ao grande número de alunos. Muda a academia para o bairro de Olaria, um local espaçoso e agradável, e aí não parou mais, formou grandes capoeiristas, como o saudoso mestre Zé Grande, que se destacou como o melhor discípulo.”

Mário Buscapé também frequentava a roda do Artur Emídio, uma das poucas rodas que aconteciam com regularidade no Rio na década de 1950. Dizem os capoeiristas que viveram essa época que Mário ficou muito impressionado com a rapidez do jogo de Artur Emídio e começou a levantar o seu jogo também.

O grupo Bonfim, liderado pelo Mestre Mário Buscapé, ficou famoso no Rio de Janeiro porque formou muitos capoeiristas de alto nível, ganhando com frequência as competições que começaram a ser organizadas na cidade a partir de meados da década de 1960. Em 1969, M. Mário voltou para Bahia e seus alunos, Zé Grande e Deraldo, assumiram a liderança do grupo Bonfim no Rio. Somente muitos anos depois, em 1994, os alunos da Bonfim trouxeram o mestre de volta para o Rio de Janeiro. Desde então Mário Buscapé vem tentando resgatar a herança do grupo Bonfim, que desempenhou um papel tão central no desenvolvimento da capoeira no Rio de Janeiro nas décadas de 1950 a 1970.

Assista o vídeo documentário "Mestre Buscapé"!

O Mestre conta a sua infância, seu aprendizado na linhagem de Besouro e sua vinda para o Rio de Janeiro. Outros mestres que o conheceram comentam sua atuação no Rio e a criação, nos anos 1960, do grupo Capoeiras do Bonfim

Fontes e para saber mais:

Lacé, André Luis Lopes. Texto da capa do disco Bonfim, gravado em 1968, no Rio de Janeiro, por M. André Lace e remasterizado por Nilson Rossi, do RJ Studio, em 1994.

Santos, Mário dos. A saga de uma lenda viva. Mário dos Santos. Editado por Paulinho Salmon. Rio de Janeiro: Azougue, 2016.

Entrevista de Mário Buscapé ao projeto Capoeira Contemporânea no Rio de Janeiro, em 21 de agosto de 2018.

Rio de Janeiro

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