CAPOEIRA CONTEMPORÂNEA
  • Capoeira no RJ
    • O projeto
    • Lugares de Memória
    • Capoeira na sociedade e cultura
    • Rodas
    • Mestres
    • Grupos
    • Malandros da Antiga
  • Raízes Angolanas
    • Sobre o projeto
    • O filme
    • Os Nhaneca-Nkhumbi
    • Notícias
    • Eventos & Exibições
  • Blog
  • Sobre o site
    • Consultores 2025-2027
    • Consultores 2019-2024
    • Colaboraram com conteúdo
  • Links
  • English
  • Português
28th novembro 2019 2
Geral, Malandros da antiga

Mestre Leopoldina – parte 2

Mestre Leopoldina – parte 2
28th novembro 2019 2
Geral, Malandros da antiga

Por Nestor Capoeira.

O mestre

Quinzinho (aprox.1925-1950) foi um jovem marginal temido e bastante conhecido em sua época. Drauzio Varela, o médico da Penitenciária do Carandiru que escreveu um livro de grande sucesso e que mais tarde virou filme, menciona Quinzinho em seu Estação Carandiru (Cia. das Letras, 1999, p. 270):

Seu Valdomiro é um mulato de rosto vincado e cantos grisalhos na carapinha… Os setenta anos e as histórias de cadeia ao lado de bandidos lendários como Meneguetti, Quinzinho, Sete Dedos, Luz Vermelha, e Promessinha, fizeram de seu Valdo um homem de respeito no presídio.”

Leopoldina contou (num depoimento a Nestor Capoeira, gravado em DVD, em 2005, Mestre Leopoldina, o último bom malandro), como conheceu seu primeiro mestre, Joaquim Felix, o Quinzinho, por volta de 1950; quando Leopoldina tinha uns 18 anos de idade e Quinzinho tinha, talvez, uns 23 anos de idade.

Leopoldina: ‘Eu olhava pra ele [Quinzinho], olhava para os caras em volta, e ele berrava pra mim ‑ ‘Desembandeira!’. Quando eu me preparava pra atacar, ele fazia aquelas coisas com o corpo. Eu pensei: ‘Vou matá-lo!’. Dentro da Central do Brasil, escondido nos trilhos, eu tinha uma faca de 8 polegadas que eu costumava esconder ali. De madrugada, eu pegava a faca e caía na noite. Então eu deixei o Quinzinho e entrei na Central pra pegar aquela faca. Neste momento, um jornaleiro que nunca mais vi, acho que já morreu, chamado Rosa Branca, me perguntou: ‑ ‘o que é que tá acontecendo?’. Ele me viu muito agitado e perguntou: ‑ ‘o que é que tá acontecendo?’. Eu respondi: ‑ ‘Quinzinho roubou o meu chapéu e eu vou dar uma facada conversada nele’.”

Leopoldina explicou o que é a facada conversada:

A facada conversada é o seguinte: eu teria de esperar pelo momento em que ele estivesse bebendo, aproximar por trás, bater no seu ombro para que ele se virasse. Quando ele se virasse eu furava ele pela frente, não pelas costas. Porque se eu fosse preso depois eu teria consideração na cadeia: ‑ ‘Esse é malandro, deu uma facada conversada no cara’. Mas se eu esfaqueasse pelas costas eles iam dizer: ‑ ‘Covarde’, e iam descer o pau”.

Para a sorte de Leopoldina, Rosa Branca acalmou-o e ele não procurou Quinzinho. Pouco tempo depois, Leopoldina estava num ponto final de ônibus e encontra Quinzinho mais uma vez:

Leopoldina: ‘Mineiro Bate Pau, um outro cara chamado Peão, Testa de Ferro também desceu do ônibus, e aí, Quinzinho. Quando eu vi Quinzinho, eu gelei e pensei: ‘É agora!’ Mas ninguém ali sabia do ocorrido entre nós e começaram a falar comigo. Quinzinho, vendo que eu era respeitado e amigo da malandragem, se aproximou e disse: ‑ ‘Eu não quero problema com você, porque você é malandro’. Ele estava segurando uma cuíca e passou ela pra um dos caras. Ele passou a cuíca e, de repente, me deu uma geral (revistar alguém a procura de armas)! Imagina só. Ele disse: ‑ ‘Eu não quero problema com você porque você é malandro, etcetera e tal’, e em seguida me deu uma geral!”

As semanas vão passando e Leopoldina, que está louco para aprender capoeira, vai, aos poucos, se aproximando de Quinzinho:

Leopoldina: ‘Eu disse: – ‘Quinzinho, quero te pedir um favor’. ‘O que?’, ele respondeu desconfiado. ‘Eu quero que você me ensine capoeira’. ‘Então vai no Morro da Favela amanhã’. Puxa, eu não ficaria tão feliz se alguém me desse um milhão de reais. Aquele primeiro dia, eu voltei pro Morro do São Carlos e fui dormir na esteira. No dia seguinte eu não conseguia levantar. Meu corpo todo estava doendo. E ao mesmo tempo, eu estava preocupado que ele não ia querer mais me ensinar. ‘Como é que eu vou?’, e na Favela ainda tinha que subir mais de uns cem degraus. Então eu fui no dia seguinte e disse pro Quinzinho: ‑ ‘Não pude vir porque estava todo doído’. E ele, sem me dar papo: ‑ ‘É assim mesmo, é assim mesmo’. E começou a me ensinar: ‑ ‘faz assim…. faz assim’.”

Aí, um dia o Juvenil apareceu. Ele disse alô, olhou pra mim e disse: ‑ ‘Vamos brincar?’ Eu olhei pro Quinzinho e como ele não disse nada, eu respondi: ‑ ‘Vamos’. O Juvenil tirou o chapéu, o colete, a gravata, e ficou nu da cintura pra cima, e nós começamos a brincar. Mas assim que nós começamos a brincar, ele me deu um chute que me pegou de raspão na cabeça. O Quinzinho estava sentado com a 7.65 enfiada na cintura. Ele estava de shorts. Naquele tempo (aprox. 1955) se usava short de futebol e não essas sungas de hoje. Todo mundo usava shorts. E ele estava com um lenço no colo, escondendo a pistola. Quando o Juvenil deu aquele chute, Quinzinho se levantou e enfiou a pistola na cara do Juvenil: ‑ ‘Não faça isso! Não faça isso, senão ele fica covarde!’.”

O marginal e o mestre

Eu acho esta história, contada pelo Leopoldina, incrível. Vejam bem: o Quinzinho era um jovem e perigoso marginal, chefe de quadrilha. Quando o então jovem Leopoldina o conheceu, por volta de 1950, Quinzinho já carregava algumas mortes nas costas e já tinha tirado tempo na Colônia Penal. Poderíamos pensar o Quinzinho como uma espécie de herdeiro da violenta capoeira praticada pelas maltas cariocas nos anos 1800.
Elegância no traje e esmero no berimbau: Mestre Leopoldina. Foto: Acervo André Lacé.

O Quinzinho, na verdade, não tinha nem um método de ensino estruturado; como já existia na Bahia, com mestre Bimba, desde 1930; ou com Sinhozinho, no Rio, no mesmo período. Leopoldina explicou como Quinzinho ensinava: ia jogando com o aprendiz e dizendo: “Faz assim… Faz assim”. No entanto, quando encarnava o “mestre de capoeira”, Quinzinho tinha uma ética impecável. Mais impecável ainda, pois naquele tempo, o Rio dos 1950, aluno aprendia capoeira levando porrada pra “ficar esperto”. E até hoje, mesmo que o mestre não bata nos aprendizes (alguns batem), é comum os alunos mais experientes (e/ou mais fortes) descascarem os iniciantes (e/ou mais fracos).

Eu vejo esta passagem como algo muito emblemático na complexidade do mundo da capoeira, com seus bizarros paradoxos, que, na verdade, não parecem tão estranhos assim, para aqueles que têm o corpo e a cabeça feitos pelos fundamentos da malícia.

O método de ensino de Artur Emídio

Mestre Leopoldina conta que o método de ensino de Artur Emídio era baseado em sequências semelhantes às de Bimba, mas realizadas ao som de berimbau tocado em ritmo rápido.

No início, segundo Leopoldina, quem tocava o berimbau na academia de Artur era mestre Paraná, outro baiano que se tornou conhecido no Rio e foi mestre, entre outros, de mestre Mintirinha. Artur só começou a tocar berimbau mais tarde.

Artur, como todo mestre, preocupava-se com a perpetuação do seu estilo. Leopoldina, por volta de 1963, começou a frequentar uma roda informal de angoleiros, estivadores do Cais do Porto, que se realizava no quintal da casa de um deles no subúrbio carioca. Artur reclamou que Leopoldina estava ficando “muito lento”, se deixando influenciar pela angola quando, segundo Artur, Leopoldina deveria “impor seu jogo”.

Veja mais!

O documentário Mestre Leopoldina – O Último Bom Malandro traz a entrevista que Leopoldina concedeu a Nestor Capoeira. Veja aqui. a segunda parte:

Artigo anteriorMestre Leopoldina - parte 1Próximo artigo Madame Satã

2 comments

Sidnei Secretário disse:
12th dezembro 2019 às 4:32 pm

Treinei com o MESTRE LEOPOLDINA,na Gardênia Azul,de 1994 até 2001,e tudo que o Senhor,relata é muito importante para as pessoas conhecerem o GRANDE MESTRE e saberem da sua importância no mundo da CAPOEIRA.

Responder
daflon disse:
16th dezembro 2019 às 11:59 pm

Obrigado, Sidnei. Se você quiser, pode postar aqui um breve depoimento dessa sua convivência com o Mestre Leopoldina, na Gardênia Azul.
Um abraço. A equipe do projeto.

Responder

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Categorias

  • África (4)
    • Angola (1)
    • Bantu (2)
  • Antropologia (4)
  • Biografia (13)
  • Capoeira no Rio de Janeiro (52)
    • 1ª República (8)
    • Atlântico negro (2)
    • Brasil Império (3)
    • Ditadura (1964-85) (3)
    • Época colonial (2)
    • Era Vargas e Populismo (1930-64) (4)
    • Exibições (1)
    • Grupos (7)
    • Grupos de capoeira (3)
    • Iconografia (1)
    • Literatura (1)
    • Lugares da capoeira (4)
    • Lugares de memória (4)
    • Malandros (3)
    • Malandros da antiga (8)
    • Outros estados (11)
      • Bahia (3)
      • Maranhão (2)
      • Pará (1)
      • Piauí (1)
      • São Paulo (4)
    • Rio de Janeiro (7)
    • Rodas (1)
    • Rodas de capoeira (6)
    • Século XXI (9)
    • Sociedade (2)
    • Sociedade e cultura (4)
    • Textos Clássicos (2)
  • Caribe (3)
  • Escravidão (3)
  • Fake news (1)
  • Geral (66)
  • Globalização (6)
  • Historiografia (8)
  • Índico Negro (1)
  • Mulheres na capoeira (1)
  • Outras lutas (9)
  • Raízes angolanas (2)
    • Benguela (2)
  • Relações étnico raciais (2)

Posts recentes

Kokobalé, a arte marcial afro-portorriquenha4th abril 2025
Mestre Pastinha: as malícias escritas de um capoeira-autor21st fevereiro 2025
As origens do savate, do “chausson” e do boxe francês (1798-1842)4th janeiro 2025
Alunos de Mestre Roque8th dezembro 2024
Fórum Global de Artes Marciais 20241st novembro 2024

Tags

BBC. Capoeira. Ident. Camisa Preta. Malandro. Capoeira. Carnaval. Blocos de embalo. Cacique de Ramos. Bafo da Onça. Capoeira. Primeira República. São Paulo. Capoeira e Política. Maltas. Capoeira crioula e capoeira escrava. Capoeira nas ruas. São Paulo. Maltas. Primeira República. Capoeira no exterior. Profissionalização. Transnacionalização. Capoeira songs. Festival Galo já Cantou. Competition. Rádio Capoeira. Mestre Paulão Kikongo. Mestre Alexandre Batata. Engolo. Neves e Sousa. Câmara Cascudo. Mestre Pastinha. Escola de samba. Mangueira. Mestre Leopoldina. Salgueiro. Viradouro. Grupo de capoeira. Kapoarte. Filhos de Obaluaê. Mestres Mintirinha História Atlântica. Benguela. Angola. África. Escravidão. Tráfico de escravizados. Mariana Candido. Rio de Janeiro. Raízes angolanas da capoeira. Khorvo and Silas. Lapa. Boêmia. Maxixe. Malandragem. Mulher. Empoderamento. Mestra Cigana. Mestra Janja. Música de capoeira. Festival Galo já Cantou. Concurso. Rádio Capoeira. Mestre Paulão Kikongo. Mestre Gegê. Paulão Paulão. Burguês. Mintirinha. Piriquito Prata Preta. Revolta da Vacina. Desterro. Acre. Roda de Capoeira. Central do Brasil. Mestre Mucungê. Roda de Capoeira. Zé Pedro. Bonsucesso. Rua Uranos. Roda do Lavradio. Lapa. Mestre Celio Gomes. Aluandê. GCAP. Sete Coroas. Malandro da antiga. Primeira República.

Dedicated to the history of capoeira.

Our aim is to provide you with reliable information, which is backed up by research and evidence. The massive growth of capoeira worldwide has created an increased need for information on its history and traditions.

Informação de contato

capoeirahistory@gmail.comhttps://capoeirahistory.com/
@ Contemporary Capoeira 2021 - Privacy policy | Terms of use

Bem-vindo

a capoeirahistory.com, um website dedicado à história da capoeira.

Categorias

  • 1ª República
  • África
  • Angola
  • Antropologia
  • Atlântico negro
  • Bahia
  • Bantu
  • Benguela
  • Biografia
  • Brasil Império
  • Capoeira no Rio de Janeiro
  • Caribe
  • Ditadura (1964-85)
  • Época colonial
  • Era Vargas e Populismo (1930-64)
  • Escravidão
  • Exibições
  • Fake news
  • Geral
  • Globalização
  • Grupos
  • Grupos de capoeira
  • Historiografia
  • Iconografia
  • Índico Negro
  • Literatura
  • Lugares da capoeira
  • Lugares de memória
  • Malandros
  • Malandros da antiga
  • Maranhão
  • Mulheres na capoeira
  • Outras lutas
  • Outros estados
  • Pará
  • Piauí
  • Raízes angolanas
  • Relações étnico raciais
  • Rio de Janeiro
  • Rodas
  • Rodas de capoeira
  • São Paulo
  • Século XXI
  • Sociedade
  • Sociedade e cultura
  • Textos Clássicos

capoeirahistory.com