O Museu do Folclore Edison Carneiro, criado em 1968, é herdeiro do movimento institucionalizado como "Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro".
Por Matthias Röhrig Assunção.
O Museu do Folclore Edison Carneiro é parte do Centro Nacional de Folclore e de Cultura Popular (CNFCP), localizado ao lado do Palácio da República, num conjunto arquitetônico tombado no bairro do Catete, Rio de Janeiro.
O Museu do Folclore e o CNFCP são herdeiros do movimento folclórico brasileiro liderado por Edison Carneiro (1912-1972), Renato Almeida (1895-1981) e outros pesquisadores e folcloristas, entre 1947 e 1964. Esse movimento foi institucionalizado como “Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro”, no governo de Juscelino Kubitschek, em 1958, mas desarticulado em 1964, quando seu presidente Edison Carneiro foi preso. A Constituição de 1988, em seus artigos 215 e 216, de novo incluiu a preservação do patrimônio folclórico entre os deveres do Estado brasileiro.
A capoeira sempre teve um papel de destaque no movimento folclórico. Houve apresentação de capoeira desde o Primeiro Congresso do Folclore no Rio, em 1951, presenciado por Getúlio Vargas. Anteriormente, em 1937, Edison Carneiro já havia lançado seu livro Negros Bantus, cujo capítulo II, na 2ª parte, constitui a primeira monografia sobre capoeira. Renato Almeida publicou o primeiro artigo acadêmico sobre a capoeira, em 1942.
Em 1975 saiu o caderno número 1 da FUNARTE, intitulado Capoeira, de Edison Carneiro, onde o autor expande os resultados de sua pesquisa anterior.
O Museu do Folclore foi criado em 1968 e instalado no Palácio do Catete, junto à sede do CBDF. O Museu adotou em seu nome o complemento “Edison Carneiro”, em 1976, em homenagem à contribuição fundamental desse autor para os estudos e a campanha em prol do folclore e, podemos acrescentar, também para os estudos da capoeira. Em 1980 foi inaugurada a nova sede do Museu, na antiga Casa de Guarda do Palácio do Catete. Desde então o complexo CNFCP tem continuado a prestar serviços relevantes para a capoeira. A Biblioteca Amadeu Amaral, por exemplo, disponibilizou – bem antes da Hemeroteca Digital da BN – recortes de jornais sobre capoeira que foram utilizados por muitos pesquisadores.
O Museu do Folclore, na rua do Catete, foi também palco de apresentações e rodas de capoeira desde a Semana do Folclore, em agosto de 1970.
Nessa ocasião a apresentação de capoeira foi feita pelo grupo “Rio Antigo”, dirigido pelo mestre Vilmar da Cruz Brito (1944-2016).
Por ocasião da abertura da sede Campanha Brasileira de Defesa do Folclore, em 19 de agosto 1975, houve grande comemoração e, entre os grupos folclóricos que se exibiram naquela noite, não podia faltar a capoeira: desta vez, de um grupo de “Capoeiras da Bahia”, dos quais os jornais não deram mais detalhes. O homenageado do dia foi Luís da Câmara Cascudo, outro autor importante para os estudos da capoeira. Nesse dia, assinalou o Jornal dos Sports, houve também o lançamento da nova série dos Cadernos do Folclore, cujo nº 1, era, como já mencionado, dedicado a capoeira em estudo de Edison Carneiro.
Na inauguração da sede atual do museu e do CNFCP, em 14 de março 1980, teve apresentação de grupos de capoeiras e de violeiros nos jardins do Palácio do Catete.
Dando continuidade a esse histórico da capoeira no Museu do Folclore, no dia 12 de setembro 2019, o projeto “Capoeira Contemporânea no Rio de Janeiro (1948-82)” inaugurou o website www.capoeirahistory.com com uma roda que reuniu capoeiras da velha guarda e gerações mais novas de praticantes.
Aproveite e confira aqui a roda contou com a participação dos mestres Polaco (in memoriam), Gegê, Nestor Capoeira, Paulão Muzenza, Soldado, Camisa, Levi, Bebeto, Tisza e Célio Gomes.
Fontes:
Diário de Notícias, Jornal dos Sports, Tribuna da Imprensa.
Para saber mais:
Renato Almeida. “O brinquedo da capoeira”, Revista do Arquivo Municipal (São Paulo), Vol. 7 (1942), No. 84, pp. 155-162.
Edison Carneiro. Negros Bantus. Notas de ethnographia religiosa e de folk-lore. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1937.
Edison Carneiro. Capoeira. (Cadernos do Folclore No. 1) Rio de Janeiro: Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, Funarte, MEC, 1975 (2 ed., 1977).
Luís Rodolfo Vilhena. Projeto e missão. O movimento folclórico brasileiro, 1947-1964. Rio de Janeiro: Funarte, Fundação Getúlio Vargas, 1997.