Filho de capoeirista famoso, Mestre Roque aprendeu capoeira ainda menino, na Bahia. Na década de 1950, migrou para o Rio de Janeiro, onde tornou-se uma das principais referências da capoeira na cidade.
Matthias Röhrig Assunção (julho de 2019)
Roque Mendes dos Santos nasceu em 1938, em Salvador, filho de um capoeirista de renome, Liberato Francisco Xavier, o Chico Preto, que tinha uma tenda de peixe no Mercado Modelo. Roque começou a aprender capoeira ainda menino, em 1948, com o compadre do pai, um alfaiate que morava no do Alto do Peru, perto do Largo do Tanque. Conforme seu testemunho, ainda adolescente, conviveu com muitos capoeiristas famosos da antiga, como Gajé, Índio, Tatu Bola, Bom Cabrito, Boca de Fumaça, Traíra e Canjiquinha. Conta também que aprendeu muito com Cobrinha Verde.
Roque se alistou na Marinha e veio para o Rio de Janeiro em 1956. Quando deu baixa da Marinha, ficou na cidade, residindo em vários morros, principalmente o Pavão Pavãozinho, na Zona Sul, entre Ipanema e Copacabana. Começou a ensinar capoeira, inicialmente no Catumbi e logo na Associação dos Moradores do Pavão Pavãozinho. Em 1960 fundou o grupo de capoeira Filhos de Angola. Desta maneira, Roque foi pioneiro no ensino da capoeira na Zona Sul. Seu grupo participou de torneios e competições que ajudaram a divulgar a capoeira, como o Berimbau de Ouro (1967).
Roque afirma que aprendeu a tocar berimbau com Mucungê, outro migrante baiano no Rio, com fama de exímio tocador. Tocou berimbau no Pagador de Promessas, de Dias Gomes, quando essa peça foi encenada no Rio de Janeiro. O seu grupo de capoeira Filhos de Angola participava de apresentações folclóricas com o espetáculo Uma Noite na Bahia, que se inspirava nas festas de largo em Salvador. Apresentava-se em clubes, quadras de escolas de samba e no bloco carnavalesco Império do Pavão, na Rua Saint Roman. Mestre Roque também participou do grupo folclórico Capoeiras do Bonfim, do Mestre Mário Santos, conhecido com Mário Buscapé.
Depois de 12 anos no Pavão Pavãozinho, deu aulas na Praia do Pinto, na praça Mauá, em Jacarepaguá e em vários outros lugares pela cidade. Quando trabalhava como segurança na Refinaria da Petrobras, em Caxias, deu aulas na Associação dos Empregados da empresa, na rua da Conceição, no Centro. Passou a residir em São João de Meriti, onde sua esposa mantinha um terreiro.
Roque formou uma série de mestres, como Adilson, Poeira, Derli, Lapinha, Paulo Siqueira e Sandrinha. Sandrinha foi uma das primeiras mulheres formadas na capoeira, no Rio e no Brasil. Angoleiro na origem, Roque insiste que a sua capoeira e a de seus mestres era da linha de São Bento, mais rápida. De fato, teve contato com alunos de Bimba, como o Vermelho 27, e reivindica ter sido um dos primeiros a ter introduzido o cordel na sua academia. Por isso, Mestre Roque representa uma das linhagens fundadoras da capoeira contemporânea no Rio de Janeiro.
Veja aqui o clip “Conversa com Mestre Roque”, gravado na sua casa em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, em 2016:
Fontes:
Jornais da época e entrevistas com M. Roque (2016), M. Lapinha (2019) e M. Paulo Siqueira (2019).
Fotos do Acervo de M. Lapinha e M. Paulo Siqueira.