CAPOEIRA CONTEMPORÂNEA
  • Capoeira no RJ
    • O projeto
    • Lugares de Memória
    • Capoeira na sociedade e cultura
    • Rodas
    • Mestres
    • Grupos
    • Malandros da Antiga
  • Raízes Angolanas
    • Sobre o projeto
    • O filme
    • Os Nhaneca-Nkhumbi
    • Notícias
    • Eventos & Exibições
  • Blog
  • Sobre o site
    • Consultores 2025-2027
    • Consultores 2019-2024
    • Colaboraram com conteúdo
  • Links
  • English
  • Português
7th novembro 2022 0
Geral, Ditadura (1964-85), Era Vargas e Populismo (1930-64), Lugares da capoeira, Rodas de capoeira

Roda da Penha

Roda da Penha
7th novembro 2022 0
Geral, Ditadura (1964-85), Era Vargas e Populismo (1930-64), Lugares da capoeira, Rodas de capoeira

Por Matthias Röhrig Assunção.

A festa da Penha é celebrada ao redor da igreja Nossa Senhora da Penha desde tempos coloniais. A primeira capela foi erigida no penhasco no século XVII por um devoto conhecido como Capitão Baltazar. Ele contou que, ao subir a rocha para olhar suas plantações, foi ameaçado por uma grande cobra. Apelou para Nossa Senhora quando apareceu um lagarto que afugentou a cobra e ele escapou do perigo. Decidiu então construir a primeira capela. Em 1817 outro devoto pagou pela escadaria, e, em 1870, foi construído um novo templo, ampliado em 1925 para atender o crescente número de peregrinos.

Desde pelo menos o século XVIII a igreja da Penha virou um lugar de peregrinação. Muitos romeiros subiam de joelhos a escadaria que leva ao templo, cumprindo votos feitos à Virgem em momentos de infortúnio. Vinham dos povoados e fazendas ao redor, de Inhaúma, Pavuna, Irajá, Campo Grande e da Ilha do Governador, não somente os fazendeiros e suas famílias, mas também lavradores e trabalhadores escravizados.

Inicialmente a novena que precedia o dia da Santa era marcada por festejos de tradição portuguesa. Tocavam rabecas e violas, e dançavam cana verde, fadinho e chamarrita. Porém, à medida que a festa foi atraindo romeiros da cidade, pescadores da Baía da Guanabara e até trovadores do sertão, suas características mudaram.

Não sabemos ao certo quando apareceu a capoeira pela primeira vez na festa da Penha. Mello Morais descreve um episódio com o famoso capoeira Manduca da Praia, morador na Cidade Nova, que tinha uma banca de peixe na Praça do Mercado, no centro do Rio de Janeiro, durante a década de 1850. Segundo esse autor, Manduca era

[…] um pardo claro, alto, reforçado, gibento, e quando o vimos usava barba crescida em ponta, grisalha e cor de cobre. De chapéu de castor branco ou de palha ao alto da cabeça, de olhos injetados e grandes, de andar compassado e resoluto, a sua figura tinha alguma coisa que infundia temor e confiança. Trajando com decência, nunca dispensava o casaco grosso e comprido, grande corrente de ouro que prendia o relógio, sapatos de bico revirado, gravata de cor com um anel corrediço, trazendo somente como arma uma bengala fina de cana-de-índia.” (Mello Moraes, 2002, 333)

capanga eleitoral (2)
Na ilustração do livro de Mello Moraes, de 1882, o "capanga eleitoral", com seu bastão e traje a rigor, tal como usava Manduca da Praia.

Mello Morais relata que Manduca teve um confronto na festa da Penha com um grupo de romeiros. Diz esse autor que “o Manduca da Praia bateu-se com tanta vantagem contra um grupo de romeiros armados de pau, que alguns ficaram estendidos e os mais inutilizados na luta”. É possível que se tratasse de um grupo de romeiros portugueses, praticantes do jogo do pau luso. Em todo caso, convém assinalar que o confronto deve ter sido de bengala contra pau, já que os capoeiras daquela época, incluindo Manduca, utilizavam-se muito de bengalas e paus em seus confrontos.

É esse o episódio ao qual se refere Mestre Touro na sua fala, em nosso clipe documentário, que pode constar de fato como a primeira menção de capoeira na festa. No entanto, não existem para essa época relatos de roda de capoeira propriamente dita, sendo o mais provável que se tratasse de episódio isolado. A roda de capoeira na festa da Penha só começa em época bem mais recente, talvez na década de 1960 – não sabemos ao certo. Os relatos apontam tanto os capoeiristas do grupo Bonfim, como Deraldo e Zé Grande, quanto Mestres Dentinho e Mintirinha, como iniciadores da roda. Na década de 1970, a roda da Festa da Penha, que acontecia apenas durante o mês do festejo (outubro-novembro), se estabeleceu como uma das principais rodas de rua no Rio de Janeiro.

Veja o primeiro registro cinematográfico de roda na Penha, na década de 1970, e os relatos dos mais velhos em nosso documentário A Roda da Penha:

Agradecemos Raphael Gonçalves Teixeira (Raphael Calvo), mestres Alcino Auê, André Lacé e Paulão Muzenza, por disponibilizar imagens de arquivo, e os mestres Burguês, Camisa, Minhocão, Mintirinha (in memoriam), Paulão Muzenza, Paulinho Salmão, Silas, Touro e Mucama por disponibilizarem seus depoimentos.

Para saber mais:

[Alexandre José de] Mello Moraes Filho. Festas e tradições populares do Brasil. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2002 (1a ed. 1888). Ver capítulos “A Festa da Penha” e “Capoeiragem e Capoeiras Célebres”.

Imagem do destaque: Igreja da Penha em 1947 – Disponível em http://rio-curioso.blogspot.com/2010/10/igreja-de-nossa-senhora-da-penha.html

Artigo anteriorO moringue entre o desaparecimento e a reinvençãoPróximo artigo Mestre Cosmo e seu legado para a capoeira de Piracicaba

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Categorias

  • África (4)
    • Angola (1)
    • Bantu (2)
  • Antropologia (4)
  • Biografia (13)
  • Capoeira no Rio de Janeiro (52)
    • 1ª República (8)
    • Atlântico negro (2)
    • Brasil Império (3)
    • Ditadura (1964-85) (3)
    • Época colonial (2)
    • Era Vargas e Populismo (1930-64) (4)
    • Exibições (1)
    • Grupos (7)
    • Grupos de capoeira (3)
    • Iconografia (1)
    • Literatura (1)
    • Lugares da capoeira (4)
    • Lugares de memória (4)
    • Malandros (3)
    • Malandros da antiga (8)
    • Outros estados (11)
      • Bahia (3)
      • Maranhão (2)
      • Pará (1)
      • Piauí (1)
      • São Paulo (4)
    • Rio de Janeiro (7)
    • Rodas (1)
    • Rodas de capoeira (6)
    • Século XXI (9)
    • Sociedade (2)
    • Sociedade e cultura (4)
    • Textos Clássicos (2)
  • Caribe (3)
  • Escravidão (3)
  • Fake news (1)
  • Geral (66)
  • Globalização (6)
  • Historiografia (8)
  • Índico Negro (1)
  • Mulheres na capoeira (1)
  • Outras lutas (9)
  • Raízes angolanas (2)
    • Benguela (2)
  • Relações étnico raciais (2)

Posts recentes

Kokobalé, a arte marcial afro-portorriquenha4th abril 2025
Mestre Pastinha: as malícias escritas de um capoeira-autor21st fevereiro 2025
As origens do savate, do “chausson” e do boxe francês (1798-1842)4th janeiro 2025
Alunos de Mestre Roque8th dezembro 2024
Fórum Global de Artes Marciais 20241st novembro 2024

Tags

BBC. Capoeira. Ident. Camisa Preta. Malandro. Capoeira. Carnaval. Blocos de embalo. Cacique de Ramos. Bafo da Onça. Capoeira. Primeira República. São Paulo. Capoeira e Política. Maltas. Capoeira crioula e capoeira escrava. Capoeira nas ruas. São Paulo. Maltas. Primeira República. Capoeira no exterior. Profissionalização. Transnacionalização. Capoeira songs. Festival Galo já Cantou. Competition. Rádio Capoeira. Mestre Paulão Kikongo. Mestre Alexandre Batata. Engolo. Neves e Sousa. Câmara Cascudo. Mestre Pastinha. Escola de samba. Mangueira. Mestre Leopoldina. Salgueiro. Viradouro. Grupo de capoeira. Kapoarte. Filhos de Obaluaê. Mestres Mintirinha História Atlântica. Benguela. Angola. África. Escravidão. Tráfico de escravizados. Mariana Candido. Rio de Janeiro. Raízes angolanas da capoeira. Khorvo and Silas. Lapa. Boêmia. Maxixe. Malandragem. Mulher. Empoderamento. Mestra Cigana. Mestra Janja. Música de capoeira. Festival Galo já Cantou. Concurso. Rádio Capoeira. Mestre Paulão Kikongo. Mestre Gegê. Paulão Paulão. Burguês. Mintirinha. Piriquito Prata Preta. Revolta da Vacina. Desterro. Acre. Roda de Capoeira. Central do Brasil. Mestre Mucungê. Roda de Capoeira. Zé Pedro. Bonsucesso. Rua Uranos. Roda do Lavradio. Lapa. Mestre Celio Gomes. Aluandê. GCAP. Sete Coroas. Malandro da antiga. Primeira República.

Dedicated to the history of capoeira.

Our aim is to provide you with reliable information, which is backed up by research and evidence. The massive growth of capoeira worldwide has created an increased need for information on its history and traditions.

Informação de contato

capoeirahistory@gmail.comhttps://capoeirahistory.com/
@ Contemporary Capoeira 2021 - Privacy policy | Terms of use

Bem-vindo

a capoeirahistory.com, um website dedicado à história da capoeira.

Categorias

  • 1ª República
  • África
  • Angola
  • Antropologia
  • Atlântico negro
  • Bahia
  • Bantu
  • Benguela
  • Biografia
  • Brasil Império
  • Capoeira no Rio de Janeiro
  • Caribe
  • Ditadura (1964-85)
  • Época colonial
  • Era Vargas e Populismo (1930-64)
  • Escravidão
  • Exibições
  • Fake news
  • Geral
  • Globalização
  • Grupos
  • Grupos de capoeira
  • Historiografia
  • Iconografia
  • Índico Negro
  • Literatura
  • Lugares da capoeira
  • Lugares de memória
  • Malandros
  • Malandros da antiga
  • Maranhão
  • Mulheres na capoeira
  • Outras lutas
  • Outros estados
  • Pará
  • Piauí
  • Raízes angolanas
  • Relações étnico raciais
  • Rio de Janeiro
  • Rodas
  • Rodas de capoeira
  • São Paulo
  • Século XXI
  • Sociedade
  • Sociedade e cultura
  • Textos Clássicos

capoeirahistory.com