Paulo Gomes da Cruz nasceu em 25 de janeiro de 1941 em Itabuna, sul da Bahia ‑ região do cacau e terra natal do escritor Jorge Amado.
Por Marcelo Cardoso da Costa
Veio para o Rio de Janeiro como muitos outros baianos que, segundo o Iphan (BRASIL, 2007) “vieram em busca de melhores oportunidades de vida.
Na capital carioca aprendeu a capoeira com o Mestre Artur Emídio, também itabunense, e que tinha uma academia em Bonsucesso, subúrbio carioca. Lá treinou e se formou mestre junto com outros nomes importantes como Leopoldina, Celso do Engenho da Rainha e Djalma Bandeira. Foi nessa academia que Paulo Gomes passou a ser respeitado e conhecido como Mestre Paulo Gomes, seu nome de batismo dentro da capoeira. Sua genealogia na capoeira é a seguinte: “Filho” de Mestre Artur Emídio (1930-2011), “Neto” do Mestre Paizinho (Teodoro Ramos) e “Bisneto” de Mestre Neném (MACHADO, 1998).
Na década de 1960, mestre Paulo Gomes foi morar na Baixada Fluminense, mais precisamente em São João de Meriti, bairro Coelho da Rocha. Foi nesta região que passou a ensinar a capoeira e a formar importantes capoeiristas, dentre eles, mestres Valdir Sales (1942-2019) e Josias da Silva, que se transformaram em seus principais discípulos e fundaram importantes academias na Baixada, respectivamente, Associação de Capoeira Valdir Sales, no município de São João de Meriti, e Associação de Capoeira Josias da Silva, nos municípios de Nova Iguaçu e Duque de Caxias.
Em uma outra fase, mestre Paulo Gomes foi morar na capital paulista e lá, assim como na Baixada Fluminense, foi um dos fundadores da capoeira, onde criou o Centro de Capoeira Ilha de Maré e, em 1985, a Associação do Brasil da Capoeira (ABRACAP). Mestre Paulo Gomes também foi assessor do ex- governador de São Paulo Mário Covas, quando ajudou a instituir a Lei Estadual nº 4.649, de 7 de agosto de 1985, que definiu o dia 03 de agosto como “O Dia da Capoeirista” no Estado de São Paulo.
Mestre Paulo Gomes teve uma morte trágica em 1998. Ele foi assassinado aos 57 anos em São Paulo, dentro de sua academia, localizada na Ilha da Maré. A motivação do assassinato teria sido uma dívida que o mestre tinha com uma locadora de carro (Folha de São Paulo, 1998). Segundo mestre Ribas Machado (1998):
Na ocasião, durante a noite, a aula havia acabado de terminar e muitos alunos estavam no vestiário se trocando, quando um oficial de justiça, acompanhado de mais um sujeito, por razões que só quem estava lá sabe e pode falar com certeza, descarregou sua arma no Mestre que, passado um bom tempo, foi levado para o hospital, mas não resistiu…Durante a trágica ocorrência, dois outros capoeiras foram acertados de raspão, enquanto tentavam acalmar a confusão, são eles: Mestre Fernandão (dirigente da ABRACAP na época e tradicional capoeirista na Roda da Praça da República em São Paulo) e o Formado Cristhiano”.
Em seguida, todos foram para o cemitério São Pedro (situado na Avenida Francisco Falconi, 837 – Vila Alpina – São Paulo) e, lá, na presença de mais Mestres e capoeiristas (que foram se juntando desde o velório), o corpo foi enterrado ao som de lamentos, xulas, rezas e berimbaus…
Por fim, mestre Paulo Gomes deixou saudades no mundo da capoeira, agradecimentos de seus discípulos e contribuições em termos de memória da capoeira, como o livro “Capoeira: a arte marcial brasileira”, de 1982, e o CD “Roda de Capoeira da Ilha de Maré”.
Paulo Gomes da Cruz, 1941-1998
Para saber mais:
MACHADO, Ribas. A Capoeira de São Paulo (e do Brasil) perde Mestre Paulo Gomes. Consultado em 21/10/2019. 1998. Avaiable on: http://www.fontedogravata.org/1998/09/capoeira-de-sao-paulo-e-do-brasil-perde.html
FOLHA DE SÃO PAULO. Oficial de Justiça mata assessor de Cova. In: cotidiano. Consultado em 21/10/2019. Avaiable on: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff24099832.htm
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Inventário para registro e salvaguarda da capoeira como patrimônio cultural do Brasil. Brasília: MEC, 2007.
OLIVEIRA, J. P.; LEAL, L. A. P. Capoeira, identidade e gênero: ensaios sobre a história social da capoeira no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2009.
Marcelo Cardoso da Costa é professor de Sociologia (IFRJ – Campus Duque de Caxias) Doutorando em Memória Social (UNIRIO/PPGMS). E-mail: [email protected] https://unirio.academia.edu/MarceloCosta