Arcos Musicais

Arcos musicais

Muitos arcos musicais são documentados em Angola, e muitos ainda são tocados hoje em dia. Entre os Nhaneca-Nhkumbi identificamos três que parecem particularmente relevantes: Mbulumbumba, Onkhondj e Nkweya-Nkweya.

Mbulumbumba

O mbulumbumba, um dos raros arcos musicais com cabaça da África austral, é tocado horizontalmente em vez de verticalmente. A sutil diferença das notas, produzidas pelo dedão do tocador manipulando a corda, permite ao mbulumbumba atuar como uma segunda voz acompanhando a melodia do cantador, repetindo ou variando o tema principal da canção.

O mbulumbumba tem sido muitas vezes associado a jovens ou pessoas com estilo de vida errante, que ganham seu sustento tocando o instrumento. Por essa razão é considerado um instrumento pouco prestigioso quando comparado com o onkhondji, o arco musical de boca tocado pelos pastores. Além disso, a possibilidade de incorporação do espírito de um antepassado que tocasse o mbulumbumba resultou na animosidade dos missionários desconfiados de tradições “pagãs”.

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Mbumlumbumba tocado por Francisco Xavier Kaneka (Lubango, 2010)

Onkhondji

Esses arcos musicais são muito usados pelas pessoas para o seu próprio divertimento. O som profundo é produzido pela cavidade oral, gerando sons secundários com a vibração da corda do arco. Nas áreas rurais os homens tocam o arco musical onkhondj para se manterem acordados enquanto pastoreiam o gado nos campos.

O repertório do onkhondji pode variar, Tocadores podem se referir a situações específicas com o gado imitando o andamento dos animais com o instrumento. As melodias das cantigas tradicionais dos pastores também são expressas através do timbre dos sons secundários do arco musical. Finalmente, o instrumento também funciona como acompanhamento para contar anedotas ou dialogar com outros pastores.

Christine Dettman escreveu The Calf of the Wild: Sound, Embodiment, and Oral Poetry among Cattle Herders in Southwestern Angola, um artigo mais detalhado sobre o onkhondji, publicado em inglês, que você pode baixar aqui!

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Tchixicua Tchiapululuo tocando okhondji (Mucope, 2010)
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Mulalati Tchikunda tocando berimbau de boca Okhondji (Mucope, 2010)

Ekweya-Nkweya

A etnomusicóloga Christine Dettman nos forneceu a seguinte descrição:

O arco musical sem travões, com um arco serrilhado e uma única corda tem vários nomes na África Austral. Entre os muhumbi do sudoeste de Angola, chama-se “ekweya-kweya”, provavelmente um nome onomatopaico porque, de longe, apenas se ouviria o barulho de raspagem produzido pelo pau a roçar a borda do arco. Faz vibrar o cordel, feito de fibra vegetal (por exemplo, Hyphaena ventricosa). Apenas os excessos próximos e intensificados são notáveis, criados pela cavidade bucal do intérprete mantida junto à corda. Ao reduzir ainda mais o fio com outra pequena vareta, formam-se sobretons adicionais, construindo efetivamente um reservatório de passo hexatónico para as melodias. Assim, estes sobretons dão forma a canções que os conhecedores das normas reconheceriam. Entre os muhumbi, o instrumento é utilizado por mulheres para se consolarem nas suas horas solitárias ou tristes.

O instrumento vem com o nome “elumba” entre os vizinhos Momwhila, “ekolowa” entre Hanya (Hauenstein 1967:222-3), e vários outros. Há gravações áudio disponíveis online com o Projeto Tsikaya (e.g. Tsikaya.org > Browse “Benguela/Ndombe Grande” > Bei Primeiro [faixa 1, 2] Avelino Chico [faixa 2], Tsikaya.org > Browse “Moxico/Ndele”).”

Referências:

Hauenstein, Alfred (1967). Les Hanya: description d’un groupe ethnique bantou de l’Angola (The Hanya: Description of an ethnic Bantu group from Angola). Wiesbaden: Steiner.

Tsikaya.org

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Katana Mbale toca Ekweya-Kweya (Mucope 2011)