Por Matthias Röhrig Assunção.
O prêmio “História da Capoeira no Rio de Janeiro” foi uma competição especial do Festival Galo já cantou organizado pela Rádio Capoeira e Mestre Paulão Kikongo, com recursos advindos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, através da Secretaria de Estado de Cultura e Economia do Rio de Janeiro e Secretaria Especial da Cultura do Governo Federal. O prêmio, patrocinado pelo site capoeirahistory.com foi atribuído pelo júri ao Mestre Alexandre Batata e seu amigos, em sessão transmitida online, no dia 17/04/2021, para sua música intitulada “Capoeira no Rio de Janeiro de 1948 até 1988”. A Comissão Julgadora era composta da mestra Janja, dos mestres Toni Vargas e Gegê, assim como dos historiadores Antonio Liberac e Matthias Assunção.
É muito interessante ver quais foram os temas prediletos dessa parte do festival. Em primeiro lugar, sem dúvidas, as rodas do Rio de Janeiro. Duas músicas, de autoria de Thiago P. dos Santos (Orelha) e de Mestre Poraquê, tematizaram a roda da Tradição, organizada por Mestre Efraim no período de 1986 a 2013, na Escola de Samba Tradição, Zona Norte do Rio de Janeiro. Lembraram com nostalgia o encontro de bambas nesse local e o quanto aprenderam lá. Bruno Rodolfo Martins (Treinel Sabará) entrou no festival com uma ladainha sobre a tradicional roda-missa em Homenagem Póstuma a Mestre Pastinha que acontece faz 40 anos no dia 13 de novembro na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e de São Benedito, na Rua Uruguaiana.
Outras músicas evocaram tempos mais antigos, como o “Tempo do lenço de seda”, título da música do Professor Chu Capoeira. Nazaré Avelar também cantou esses tempos antigos de Capoeiragem no Rio de Janeiro, quando se usava “Faca, navalha e um bastão de pau”. Fernando Cruz cantou uma ladainha sobre a “Velha Lapa do meu Rio” tematizando o velho bairro boêmio onde a capoeira tem tido uma presença importante até os dias de hoje.
A música de Aurora Camboim Lopes de Andrade Lula (Chun-li) “Um beija flor me cantou a sina carioca” usou o recurso de um pássaro para contar essa história, e com sua bela voz, ganhou um dos prêmios de interpretação. Parabéns Chun-li!
Jeroen Verheul, mais conhecido no mundo da capoeira como Rouxinol da Holanda, também cantou a Lapa, lembrando dos tempos que era o reduto de bambas.
Ele compôs duas músicas (como autorizado pelo regulamento). A segunda música faz um panorama mais geral da capoeira desde o tempo das maltas e dedica versos aos mestres que mais se destacaram desde a década de 1950. Essas duas músicas tiraram o terceiro e segundo lugar, respectivamente. Rouxinol também levou o prêmio de interpretação. Parabéns Rouxinol!
Mestre Alexandre Batata, com trabalho de capoeira iniciado na cidade de Niterói e já há alguns anos residindo em Portugal, apresentou uma música que tematiza a capoeira entre a chegada do Mestre Paraná, na década de 1940, e o ano de 1988, ano do centenário da abolição da escravatura. Como ele afirma, “esses 40 anos foram fundamentais para a capoeira do Rio criar uma identidade.” A letra de sua música (veja abaixo) reflete o conhecimento que tem dos muitos protagonistas da capoeira dessa época, atribuindo características a muitos dos personagens. Mestre Alexandre Batata foi aluno do mestre Mintirinha e depois do mestre Alcion. Ele explica: “Por ironia a único que não conheci foi o Mestre Paraná.”
Parabéns Mestre Alexandre Batata por sua contribuição!
Quem quiser saber mais sobre o trabalho do mestre, recomendamos o canal Mestre Alexandre Batata no YouTube.